sábado, 12 de março de 2011

SEXTO ENCONTRO - Histórico dos grupos e retrospectiva das temáticas

A criatividade não suporta um lugar repetitivo
Nosso encontro de hoje retomou um pouco da história pessoal dos integrantes dos grupos, seguido da retomada de alguns temas tratados nos encontros anteriores.
No depoimento de Mário de Ballentti, o qual resgata suas paixões de infância como motivadores de seu trabalho artístico, percebe-se a descoberta da força do teatro como meio de expressão; o uso do teatro como recurso para comunicar. As suas experiências de infância influenciaram na escolha pela linguagem teatral com animação. Ele entende que essas paixões de infância motivam a criação, pois a criação é a expressão e a prática do estímulo recebido. O seu referencial visual e sonoro (como a Revista Recreio e os disquinhos do Braguinha e Radamés Gnattali) repercutem na escolha estética dos seus espetáculos. Para ele, as experiência boas, agradáveis, nos impelem à criação.
“Fazer da aula de artes um processo de expressão deve ser iniciado desde cedo. O início dos cursos que ministro parte da sensibilização com o material. Sentir o material compõe cinqüenta por cento da expressão (...) Construir e atuar são atividades que sempre surgiram juntas para mim: sempre foi preciso primeiro construir o brinquedo para depois brincar com ele. A montagem e a construção da brincadeira faz parte do brinquedo”
Acrescentando o conteúdo apreendido na sua participação no Festival Internazionale di Teatro e Cultura per La Prima Infanzia 2011 (Itália), no qual foram debatidas questões sobre a formação bio-social da criança, Mário de Ballentti comenta que o cérebro da criança produz relações neurais em muito maior quantidade do que o adulto, o que a faz perceber e expressar o mundo de outro modo, sem condicionamentos.
O grupo, então, discutiu e fez uma breve incursão e pesquisa no campo na neuroestética para ampliar nossa discussão e tentar compreender a experiência estética no âmbito neuronal. Alguns dados observados nessa breve pesquisa:
- Escutar música e perceber cores ativa processos motores no cérebro humano. Determinadas obras de arte produzem substâncias, como a dopamina, que provoca prazer, bem-estar e estimula a criatividade.
- Para a criança, a linha atenta para o limite e prepara para a percepção da forma. Neste ponto, retomamos a discussão tratada no encontro anterior, no qual comentamos sobre o movimento do desenho que o corpo do ator imprime no espaço e a qualidade “silhuetada” dessa forma como produtora de informações claras. A leitura da ação necessita da leitura da forma e da leitura que essa forma ocupa e transforma os vazios do espaço.
- O sistema meramente reprodutivo em arte inibe a criatividade e ser criativo hoje é uma necessidade imperativa dentro da articulação social do sujeito. Logo, o papel da arte como estimulante criativo, por si só, constitui toda uma pedagogia.
Voltando a refletir sobre alguns dos temas anteriormente discutidos:
- Liliane resgata a temática da autonomia do ator/autor: ele constrói, é participante, passa a compreender o entorno. Nessa perspectiva também, refletimos sobre o ator múltiplo, que se desdobra em inúmeras funções fora da cena, desde a construção, produção até a divulgação de seu trabalho e como isso interfere no seu processo criativo.
- Carlos comenta: “O entorno da gente mudou para que pudéssemos realizar o trabalho.” Assim, ele reflete sobre as estruturas de produção, sua profissionalização e especialização. Ele assevera que os projetos necessitam de mais consistência e faz-se mister a contratação de terceiros para preencher funções nas quais não somos especializados.
- Comentou-se sobre uma tendência de que, nos grandes centros econômicos, a produção artística muitas vezes desvia-se de seu rumo inicial, em função da política cultural adotada pelas instituições fomentadoras. Os editais ditam formatos para a elaboração de projetos, determinando valores agregados para estes projetos e verbas para a montagem e circulação.  A evolução do grupo é determinada por uma necessidade mercadológica que exige uma produção constante de produtos culturais novos em detrimento a uma necessidade artística de produção de pesquisa.
O grupo reconhece que nesta iniciativa do Rumos Itaú, um projeto de fomento e incentivo à produção de conhecimento, altamente estimulante do ponto de vista criativo. Nesta semana de encontros, onde as duas companhias conviveram intensamente com o fim exclusivo de refletir sobre seus fazeres e suas inserções no panorama cultural do país, através de suas sistemáticas de produção, formação e criação, tivemos a oportunidade de aperfeiçoamento mútuo.
No final deste encontro, programamos a próxima etapa deste intercâmbio, que continuará no Rio de Janeiro...
Continuem acompanhando o blog e comentando... Nas próximas postagens incluiremos mais vídeos com os depoimentos dos participantes.

2 comentários:

  1. Boa noite a todos!
    Meu nome é marcio cardoso.
    Gostaria de deixar aqui o meu manifesto de apoio quanto as palavras de Mário de Ballentti,quando este diz que "(...)resgata suas paixões de infância como motivadores de seu trabalho artístico(...)". Palavras estas postadas através de Paulo Balardin.
    Ao meu ver é de suma importância o uso deste recurso para nossas criações. Saber utilizar todo o material guardado em nosso subconsciente (principalmente os da fase de infancia) e projetá-lo para o exterior, como recurso de nossas criações artísticas, torna-se algo que vai além do ser -transcende a criatura.
    Ao ler a parte do texto que diz

    "As suas experiências de infância influenciaram na escolha pela linguagem teatral com animação. Ele entende que essas paixões de infância motivam a criação, pois a criação é a expressão e a prática do estímulo recebido".(Paulo Balardin,2011)

    Demonstra o quanto o homem em sua fase adulta foge de seus conhecimentos do passado. Passa uma borracha em todas as experiencias adquiridas em quanto criança.Como se esta fase transitória em nada o ajudou para a concretização de sua personalidade. Eu particulamente adoro este processo. Realizar esta comunicação consigo mesmo partindo do interior e agindo na construção do presente é algo que nos torna um ser completo.

    A criança tem um diferencial que ultrapassa o simples ato de criar por criar. Sua percepção é quase que pura e ela repassa para os seus trabalhos os atributos de uma verdadeira criação. É este tipo de criação que o verdadeiro artísta deve aprender a realizar.

    (...)

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  2. (continuação)

    Para Marta Guedes

    "O artista trabalha com a pulsão, transformando sua angústia em simbolismo na obra criativa. Ele faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que leva muito à sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma nítida separação entre o mesmo e a realidade. (2008,01)

    Podemos dizer que o teatro tem esta capacidade de interligar o homem, com sua infancia existente em seu subconsciente. Auxiliando em sua total expressão.Uma vez que seu veiculo de comunicação é o corpo e sua força motriz é o psiquico.

    Segundo Levin

    O corpo postural-motor – e seu desenvolvimento – tem valor pelo que dele está representado no aparelho psíquico. Não adquire validade por si mesmo mas em sua ligadura representacional. (Levin, E., 2002,38)

    Com relação a imagem corporal Vygostsky fala que

    "a imagem corporal é uma representação produzida sob um contexto sócio-histórico e é fruto da experiência individual. A conexão entre inteligência prática, sensório-motricidade e emoção, por um lado, e o campo dos signos e da linguagem, por outro, é que permite a internalização dos conceitos de si, do outro e do mundo.

    Para terminar relato a seguinte experiencia

    Nas aulas de Máscara e teatro de bonecos. Este último ainda em andamento, é impossivel não se conectar com nosso processo criativo infantil. Não que devemos deixar de ter a responsabilidade adulta para agirmos igual a uma criança. Mas interligar estes dois meios: homem/criança, e apartir dai promover uma verdadeira criação. Torna-se impossivel realizar uma criação artística, principalmente no manuseio de bonecos se não deixar-mos de lado o homem velho e trabalhar-mos a criança que existe dentro de nós.
    Fica muito mais fácil quando utilizamos este meio. Nossa criatividade expressa-se com maior impulso. Dando-nos um resultado muito mais satisfatório.
    Quando neste processo, projeto para fora de mim uma criança artística amparada pelo adulto responsavél. Onde criatividade e responsabilidade trabalharão juntas para um melhor resultado.Promovendo assim um conjunto entre criação/expressão verdadeiras.
    Realizo todas as tarefas impostas nestas aulas, de uma forma conciente, onde sei que sem criatividade e sem o desligamento total dos meus impulsos e até mesmos dos impulsos que vem dos outros não conseguirei realizar um trabalho satisfatório não só para mim mas para todo o grupo.

    “O eu é antes de tudo, um eu corporal”. (Freud, 1923,1976, p.40)

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