quarta-feira, 12 de outubro de 2011

8o. Seminário de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas


As companhias Pequod e Caixa do Elefante falaram e trocaram acerca da experiência no Programa Itaú Rumos Culturais no 8o. Semínário de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas, que aconteceu junto com o 11o. Festival de Formas Animadas da SCAR/UDESC, que aconteceu entre os dias 05 e 08 de outubro na cidade de Jaraguá do Sul, SC.
Para as duas companhias foi uma possibilidade de mostrar o trabalho diante de uma platéia de estudiosos, praticantes e estudantes de teatro de animação, naquele que é hoje o mais importante evento de reflexão sobre teatro de animação do Brasil.
Foi um grato prazer falar e ouvir sobre os nossos trabalhos e perspectivas para companheiros de ofício e de bonecos, e uma ampliação das nossas perspecitvas de fazer esse encontro frutificar.

sábado, 3 de setembro de 2011

Reflexões sobre o RUMOS Itaú Encontros de Pesquisa – Etapa São Paulo

Abelardo e Mário de Ballentti
Considero, não só pela minha observação mas também pela conclusão a que chegaram os demais coletivos que o encontro de apresentação dos trabalhos seguido de debates foi uma etapa singular e que gerou outro produto de discussão.
O fato de ter que apresentarem ao grande grupo um recorte do que foi o processo, provocou muitas discussões inquietantes sobre o fazer artístico ou seja: Até que ponto este recorte poderia expressar a potencialidade da experiência vivida pelo encontro com o outro para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo?
Ficou muito claro que a pesquisa desenvolvida levantou tantas perguntas sobre o fazer de cada um que não sabemos mencionar o tamanho do impacto destas discussões a curto, médio e longo prazo.
Para alguns grupos teatrais o hibridismo de conhecimentos resultado do projeto Rumos Itaú não pode ser avaliado na sua totalidade justamente porque este recorte do processo apresentado representa um momento de extrema ebulição de idéias que necessitam de tempo para serem maturadas.
Era visível nas apresentações ensaiadas a pressão interna gerada em alguns grupos para uma “boa performance” deste recorte a ser avaliado pelo grande grupo. Os debates sempre vieram com justificativas de que aquilo que estava sendo apresentado não expressava a riqueza dos encontros e que se tivessem que preparar algo novamente seria bem diferente do resultado exibido.
Outra questão que ficou bem evidenciada, não só pela ausência dos integrantes dos grupos durante as discussões, mas também pelo stress a que estão submetidos os grupos teatrais neste momento político e econômico do pais. O excesso de trabalho gerado pelas políticas públicas e leis de incentivo está interferindo de forma significativa no resultado dos trabalhos artísticos. Este tema apareceu não só nas discussões como também nas encenações apresentadas. Cito aqui o trabalho do coletivo do Grupo Espanca ( MG ) e Cia. Brasileira de Teatro (PR) com a proposta  Um Outro Si Mesmo – Troca de Pacotes.  Em cena a figura de duas produtoras carregando pastas, CDs e  um pacote de Fedex  contendo o material de pesquisa dos dois coletivos. Elas explicam ao público, de maneira formal, que chegaram a conclusão de queimar todo aquele material gerado pela troca de pacotes dos dois grupos. A cena provocou gargalhadas de toda platéia. O esquete seguiu apresentando diversas cenas atrapalhadas, tentativas falhas de apresentação de PowerPoint do processo do grupo, intercaladas a todo momento pelo estrondo dos acordes iniciais do hino nacional.
Esta apresentação expressou muito bem a situação caótica que estão vivendo os atores na busca da sobrevivência neste contexto sócio econômico onde estamos inseridos e acomodados.
A interação entre os coletivos durante a semana propiciou uma certa intimidade entre os iguais.  Aquela situação de que ao principio todos os grupos apresentariam um resultado “positivo” do projeto deixou espaço para revelações particulares do fazer de cada um, conflitos internos gerados pela convivência ( alguns grupos sequer conheciam o trabalho do parceiro convidado ) até os momentos de entrega total a proposta colaborativa, ao conhecimento que o encontro das diferenças pode gerar.
Um dos trabalhos mais emocionantes, não só pelo resultado apresentado ( recorte de pesquisa ) mas também pelo debate entre os dois coletivos e o grande grupo, foi  a pesquisa Conexão Música da Cena realizado pelos Clows de Shakespeare ( RN ) e Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz ( RS ). Aqui, eu saliento outro momento positivo do Encontros Itaú através da  discussão profunda de um tema, permeado por Seminário de Música na Cena apresentado em Porto Alegre com a participação de diversos músicos que compõem para teatro e tendo como participante o Grupo convidado de RN. O encontro gerou a edição da 10ª edição da Revista Cavalo Louco documentando os depoimentos do seminário. As cenas criadas em comunhão com sons e trilhas executadas pelos atores dos dois coletivos foram apresentadas nos dois estados antes de serem apresentadas no Itaú, resultando uma execução perfeita e emocionante.
Ao final tivemos uma palestra da pesquisadora Cecília Salles sobre Processos de Criação em Rede, Interações como Espaços de Possibilidades.  Ela abordou a questão  pertinente nos blogs dos coletivos: A manifestação clara da necessidade vital do trabalho colaborativo dos grupos teatrais. Citou vários autores, entre eles Edgar Morin, que abordam este intercambio das linguagens na arte contemporânea e a importância das relações intercambiáveis entre grupos para a geração de novos conhecimentos e desestabilização das verdades cristalizas. Foi abordado que a melhor maneira de criar novas idéias é justamente o confronto com idéias opostas ou não totalmente semelhantes. A criação cientifica nas sociedades contemporâneas está ocorrendo nos intercâmbios dos bares, nos intervalos dos seminários, nas conversas sobre filmes e poemas, fora dos gabinetes fechados. Vivemos um momento de conexão de idéias que geram outras idéias sem parar.
O último dia ( sábado, 03 set )  foi de avaliação do projeto com todos os participantes em grande plenária. Foram apresentadas várias frases postadas em todos os blogs. A Caixa do Elefante/ PeQuod foi citada já no inicio.
De maneira muito gentil e sensível os curadores abriram a discussão com a finalidade de ouvir os coletivos e avaliar formas de aprimorar o edital.
Pela avaliação de todos os participantes, foi muito positivo o encontro, também foi unanime a proposta de manter o projeto da maneira como foi realizado, resguardando a liberdade dos grupos de escolherem seus pares e temas a serem discutidos nos encontros, sem exaustivas prestações de contas e penadas contrapartidas, situação recorrente nos editais espalhados pelo pais.

                 Mário de Ballentti – Caixa do Elefante  - teatro de bonecos


                                                             
  
 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Apresentação do projeto em SP

Obrigado a todos os amigos que estiveram presentes na apresentação do intercâmbio PeQuod e Caixa do Elefante no Itaú Cultural, em São Paulo. Em especial, agradecimentos ao Prof° Nini Beltrame, Profª Ana Maria Amaral, amigos da Cia Lumbra (Alexandre Fávero e Fabiana Bigarella), ao colega Fábio Medeiros e as queridas Valéria e Cris.

sábado, 27 de agosto de 2011

Depoimento de Valmor (Nini) Beltrame sobre o projeto

Estamos em São Paulo...derradeira etapa de nosso projeto no Rumos Itaú!
Uma recepção maravilhosa de toda a equipe do Itaú...encontro com queridos amigos fazedores de teatro por todo o país.
...E um breve depoimento do Prof. Nini sobre a importância do projeto.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MOVIMENTO É MÚSICA

Fred Astaire não era um ator-animador (como o definimos hoje). Era um dançarino, coreógrafo, cantor e ator...entre outras tantas coisas. Mas, certamente, soube incorporar à dança a máxima expressão dos objetos que cercavam seu corpo, estendendo sua dansabilidade a todo seu entorno. Sua obcessão pela perfeição o fazia repetir infinitas vezes as complicadas sequências, passos e marcações até poder gravar  a cena com o mínimo de cortes possível. Além disso, Fred sabia 'ouvir' os objetos...não apenas fascinado pelas qualidades sonoras que eles lhe ofereciam, mas fascinado, também, pelo potencial cinético da matéria inanimada. A dinâmica da forma inanimada em movimento, impulsionada pelo corpo do dançarino, gerava uma energia que impregnava a coreografia com outras qualidades, além de retroalimentar a dinâmica corporal do dançarino, uma vez que o objeto em movimento pede uma nova configuração na coreografia do 'partner' vivo (lembrei da idéia de 'circuito' que Piragibe comentou em uma de suas postagens!!): deve-se adaptar o corpo à massa, à forma e ao peso do objeto, bem como às trajetórias que esse desenvolverá no espaço. Fred tinha plena consciência da musicalidade do movimento. O impulso, o fluxo e a retensão do movimento produzem sonoridades...
Em Royal wedding, temos a clássica cena na qual o mestre do sapateado contracena e dança com um cabide. O objeto, muitas vezes, parece possuir vontade própria, desenvolvendo piruetas e passos inusitados, conduzidos pelo corpo de Fred Astaire.
E nós, atores-animadores, não buscamos também a musicalidade nas partituras corporais de nossos bonecos?

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

REPRESENTAR OU INTERPRETAR


Ontem assisti a  uma parte da defesa de dissertação de mestrado do Emerson Cardoso Nascimento aqui na UDESC ("A redescoberta da sombra") e uma questão que foi levantada para a reflexão incitou este post:
O ator de animação representa ou interpreta?
Ao meu ver, ocorre os dois. A representação, evocação de um 'modelo', alusão a algo já conhecido, surge desde a composição plástica da forma animada, e passa pela elaboração do movimento qualificado no objeto animado (boneco). É preciso executar a movimentação partindo de um referencial comum (o movimento do modelo, apreendido em sua síntese) para que ele possa ser lido. Por exemplo, para que seja identificada uma figura antropomórfica que caminha, é necessário que esse figura 'caminhe como um homem'. Se essa figura caminhar como um quadrúpede, o espectador identificará um animal outro. Essa representação exige também sutilezas para além da forma...e é aí que entra a interpretação. Quero dizer que, uma mesma sequência de ações pode ser executada com pequenas variantes em relação ao tempo de execução de movimentos e pequenas variantes nas reações...bem como nos acentos ou ênfases em determinados impulsos ou paradas. Nessa infinidade de variantes, a escolha do ATOR, a seleção dos movimentos e suas dinâmicas em função da descrição de intenções e objetivos do personagem (boneco) faz parte de sua interpretação. O prefixo 'inter' sugere bem a mediação...esse 'algo' entre uma coisa e outra. E o ator, mediador entre a expressão da forma animada e o público cumpre um papel parecido com os sacerdotes animistas antigos, ao evocarem a percepção de um mundo mais sutil e complexo através da ritualização. O rito, ou, os procedimentos utilizados, servem para gerar uma 'limpeza' na movimentação, organizando a essencialidade e buscando uma clareza na codificação. Do ponto de vista artístico, poderíamos dizer que o rito parece produzir a tal 'estranheza' da obra de arte, capaz de suscitar a curiosidade e atenção do público, na expectativa do acontecimento.
Dêem uma olhada nesse maravilhoso trabalho de Neville Tranter, por exemplo...
Eu diria que, além da representação da morte, existe uma dupla interpretação: a interpretação do boneco-personagem 'morte', que deve passar pelas escolhas do ator, e a interpretação do personagem de Neville, em seu 'corpo de ator'.

Então...nesse caso, a grande dificuldade, para mim, está nesse desdobramento simultâneo da interpretação, a qual exige a sincronicidade entre ações diversas (entre os dois personagens) para a composição de imagens que são desencadeadas consecutivamente para revelar significados.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sobre a condição de ator do artista de animação

Citação de André-Charles Gervais recolhida por R. D. Bensky. Traduzi e compartilho:

O marionetista deve ter em si tanto o tipo de ator positivo (aquele que interpreta encontrar a si, para trazer elementos de si mesmo em sua personagem, para projetar-se em sua personagem) e do tipo de ator negativo (que interpreta para desaparecer, para penetrar em outra personalidade, para buscar uma evasão, para criar além de si mesmo, para enriquecer-se na substância de seu papel). Nesse sentido o marionetista pode ser o ator ideal. Ele atua para encontrar-se num circuito que vai dele para o boneco, e retorna do boneco a ele. Ele oferece a personagem a si mesmo.

Lembrei-me bastante de nossas discussões em Porto Alegre acerca do tipo de ator que é o artista de animação, e da projeção de expressividade. Penso bastante na atuação em animação como um jogo sem hierarquia de emprego da expressão do ator e do boneco. Esse jogo de "desaparecer e mostrar-se" (desaparecer para mostrar-se) evoca a equivalência de forças que se dá entre ator e forma. Como bem disse o Balardim na ocasião: "representar com ele".



Verônica DeVitta

...Também não podia deixar de publicar essa jóia rara: um ensaio da PEQUOD, em 2008, antes da estréia de FILME NOIR...
Conheçam a irresistível  Verônica DeVitta !!!!!
Mais abaixo, outro vídeo sobre o espetáculo.


20 ANOS DA CAIXA DO ELEFANTE

Não poderia deixar de compartilhar esse vídeo que encontrei, com as imagens da comemoração dos vinte anos em Porto Alegre.




ESTIMULAR, ACORDAR, ESTIMULAR, ADMINISTRAR

Fiquei pensando sobre a definição do verbo "animar" (discussão antiga, mas que ainda  instiga...) Ao invés da popular definição utilizada por nós, "animadores", a qual diz que "animação é o ato ou efeito de produzir 'anima', vida", optei por ampliar a discussão, fazendo uma revisão semântica no termo.
Encontrei alguns outros conceitos que me fizeram refletir sobre a atuação do "animador", os quais compartilho aqui:
O ato de animar[1] também pode ser entendido como:
1. reavivar; acordar; despertar
2. elevar; entusiasmar; erguer
3. vivificar; alentar
4. estimular; revigorar; fortificar
5. conduzir; dirigir; administrar
Dessas acepções, selecionei três, as quais considero como uma seqüência lógica de interação entre o ator e o objeto: acordar, estimular e administrar.
O início de tudo parece ser um estímulo que faz acordar as faculdades proprioceptivas  e perceptivas do ator. O ator 'acorda' para a presença do objeto. O estímulo, de fato,  tem  sua origem na posição liminar entre um e outro. Na zona de intersecção das materialidades dos corpos é que está a frequencia  que faz vibrá-los. A vibração do corpo ocorre quando existe um movimento oscilatório em torno de um ponto de referência, sendo que esta vibração pode ser quantificada.  Quando o público passa a perceber a sintonia entre os corpos, é ele que acorda. Acorda para uma nova percepção e deixa-se seduzir pelo jogo do 'endereçamento do foco de atenção', no qual  a quantificação vibratória induz pontos de observação determinados e intermitentes. O objeto 'acorda' para o mundo quando a ele é dado a oportunidade de revelar-se para além de pré-determinações funcionais. O objeto, em si, passa a ser apreendido em toda a sua inexplicável pluralidade quando o olhar humano indaga contemplativamente sua essência.
A indagação exige resposta. Para obter essa resposta, o estímulo. Estimular, dando voz ao objeto, possibilita explorar suas capacidades expressivas através do jogo dramático, da interpretação do ator(participativa ou neutral) e da manipulação (efetivo contato físico entre ator e objeto com o intuito de produzir movimento externo). Pode-se dizer que existe aí uma recíprocidade: se o ator é estimulado pelo objeto, também lhe estimula, gerando um ciclo de retroalimentação.
Para a manutenção dessa retroalimentação, condição de jogo teatral, é imperativo administrar a relação entre os corpos e a significação dos variados contextos produzidos na cena. Essa administração perpassa a fixação das presenças cênicas (tanto do ator quanto dos objetos reais e dos seres ficcionais), levando em consideração o uso de forças distintas para gerar e mobilizar energias, produzindo ritmos e dinâmicas em ações expressivas variadas.

Procurei um vídeo que pudesse ilustrar um pouco  essas reflexões e encontrei Ilka Schönbein, nesta poética interpretação. Atentem para toda a relação afetiva entre a atriz e o boneco, na qual   fica dissimulado todo o contato físico 'manipulatório'. O corpo da atriz se deixa surpreender a todo instante pelo boneco e a função do olhar contemplativo dá força à retórica do inanimado. A atriz estimula o boneco que a estimula...Ilka administra magistralmente tanto seu corpo, coordenando-o significativamente, quanto o desencadeamento emocional da imagem poética.


[1] Segundo o dicionário eletrônico Babylon 8

terça-feira, 26 de julho de 2011

PROCESSO CRIATIVO

O que mais me instiga a mergulhar num processo criativo é o prazer de expressar uma idéia e poder compartilhá-la. As idéias são difíceis de serem materializadas, dada sua essência volátil e mutante. Por isso a metáfora ainda constitui-se instrumento eficaz para representar as idéias. Encontrar uma boa metáfora para a representação é garimpar num mar de possibilidades, buscando a pedra bruta que será lapidada para atingir o grau máximo de brilho. E, nesse caso, brilhar é ampliar o rol de significações. A plurissignificação é a novidade que se atualiza constantemente com o olhar. Isso faz com que a obra artística mantenha sempre seu frescor e permita que o observador volte a visitá-la, com o intuito de descobrir algo que lhe escapou num primeiro olhar.
Quando estávamos iniciando nosso processo de ensaio de "A TECELÃ", nossa primeira tarefa foi extrair do texto inspirador as imagens mais remarcáveis. A partir dessas imagens, fomos desencadeando uma sequência de associações buscando atribuir à cena uma pessoalidade na leitura das imagens. Assim, nosso universo íntimo sobrepunha-se às sugestões imagéticas iniciais. Esse processo de trans-criação foi determinante para a elaboração de uma nova dramaturgia, uma dramaturgia que operasse por meio da visualidade, uma vez que optamos por não utilizar texto falado no espetáculo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Treinamento do ator animador e conceito de objeto animado

Lembro que este foi um assunto bem discutido nos nossos encontros. Pelo que recordo, identificamos dois tipos de treinamento do ator-animador, ou melhor, dois modos de abordagem: a) um treinamento específico para um espetáculo, para uma técnica; b) um treinamento global, mais relacionada ao estágio pré-expressivo.
Sobre o treinamento específico, normalmente é ele que utilizamos frente às necessidades práticas de marcação de cena e produção do espetáculo num tempo curtíssimo. Acho que o termo "tratamento de choque" pode cair muito bem. Em contraponto, acho que foi um consenso a crença de que a nossa maior ânsia é trabalhar com atores criativos, que possam colaborar no processo de criação do espetáculo e não apenas reproduzir marcas. Daí decorre que o estágio pré-expressivo do ator-animador deverá sensibilizá-lo não apenas do ponto de vista do conhecimento e controle de seu próprio corpo mas, também, do ponto de vista da apreensão do potencial plástico, cinético e simbólico do objeto animado.
Esclareço aqui que, ao utilizar a palavra 'objeto' refiro-me a qualquer composição plástica utilizada na cena, seja um boneco (forma antropomórfica), uma silhueta de sombra ou mesmo um utensílio doméstico. Assim, uso a seguinte definição dada pelo dicionário Aurélio para objeto: 1.Tudo que é manipulável e/ou manufaturável; 2.Tudo que é perceptível por qualquer dos sentidos; 3.Coisa, peça, artigo de compra e venda.
Por isso, ao falar do objeto no Teatro de Animação, diferencio seus dois estágios de existência: objeto inanimado (antes de sua interação com o ator para a produção da cena) e objeto animado (fruto da vontade do ator em simular essa existência autônoma). Para ilustrar essa questão, Miguel Vellinho deu uma ótima pista nas nossas conversas: lembrou oportunamente da análise do movimento através de fotogramas feita por Edward Muybridge. Encontrei esse vídeo que mostra como a interação das mãos com o objeto inanimado (no caso, ilustrações) produz a ilusão do movimento.

FOCO, EIXO, NÍVEL

Compartilho com vocês uma ótima aula sobre a temática. Paul Zerdin atua muito bem na condução do foco do público, fazendo com que o olhar seja sempre direcionado para a movimentação do boneco. Para isso, ele minimiza sua movimentação como ator.
Só para não confundir...foco do público: centro de interesse do receptor; foco do boneco: centro de interesse do locutor.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

REGISTRO EM VÍDEO


Hoje trouxemos uma equipe de filmagem até a ilha de Paquetá, para podermos registrar em vídeos os depoimentos dos participantes da pesquisa. Contamos também com a visita de Humberto Braga, querido amigo e pesquisador em Teatro de Animação que, gentilmente, também gravou seu depoimento sobre o panorama atual das produções em Teatro de Animação.
Acima, Abelardo-mestre de cerimônias da Caixa do Elefante, dá o seu recado.

Reorientações

Um clima de certa pressa começou a se aproximar com o fim desta segunda etapa. Uma urgência em retomar as idéias, conferir e dar forma às experiências, mas acho que terminaremos esta fase de discussões com a coerência que nos fez decidir o tom desta pesquisa, não cristalizar métodos ou criar um material que possa parecer dogmático. Chegamos a esta fase um pouco mais conscientes de quem somos, mais seguros das experiências que podemos partilhar e menos pesados pelas certezas que não precisamos afirmar.


Curiosamente, o roteiro levantado para nortear a nossa atividade do dia de hoje, a filmagem de depoimentos que colaborem na construção do material de investigação do nosso documentário, ganhou forma refletindo uma realidade que se apresentou para nós durante todo o intercãmbio. Temos carência de um outro tempo. Lá estávamos nós no meio da noite, depois de um dia inteiro de trabalho, lutando contra Cronos para definir estratégias eficientes que nos conduzissem ao registro de um sentido. Mais uma vez, em desacordo com nossa humanidade, que nos dizia há tempo para dormir - seguimos ultrapassando a nossa linha de conforto para reorganizar os conhecimentos que se confirmaram, realinhar velhas visões, rever na fala do outro aquilo que gostaríamos de dizer e enfim preparar o material para o nosso video. Com o dia, vieram outros parceiros somar com seus apontamentos, vieram tambem idéias mais processadas pelo frescor do dia seguinte.


Os locais que as companhias vieram a se encontrar também nos fizeram refletir sobre a necessidade de um certo isolamento que nos permitisse mergulhar em outra realidade diversa da engrenagem que nos mantém produzindo. Foi preciso uma imersão de dias seguidos juntos, mesmo que em etapas descontinuadas e um calendário intenso de reflexão, fechados em um teatro, afastados em um sítio e em uma ilha, para podermos interromper nossa mecãnica de atuação e nos oportunizar pensar sobre nosso fazer.


Atualmente, a forma de produção cultural de companhias profissionais que buscam sobreviver continuadamente com um trabalho de grupo dentro de um mercado cultural, pressupõe a participação e concorrência dentro de uma série de editais que, se por um lado têm sido importantíssimos para a viabilização dos projetos, têm exigido uma energia de produção e de relação com o tempo muito conflitante com aquela necessária para a gestação e construção de uma obra artística. Isso não é novidade em uma sociedade que deseja produtos e preocupa-se em produzir desejos rentavelmente consumíveis. Mas o teatro que escolhemos fazer não se relaciona harmonicamente com pressupostos rígidos e condições restritivas e, na necessidade de nos adaptar a uma realidade que nos insere, seguimos atuando com um sentimento de desajuste e uma desconfortante impressão de que algum saber nos escapa nesta forma de trabalhar.


O caráter artesanal que envolve o Teatro da Animação e a concepção e materialização de suas formas, colabora para isso. A própria figura do bonequeiro não é reconhecida dentro do quadro de profissionais previsto nos modelos de planilhas de pessoal previsto em alguns editais.

Adaptar-se é fazer concessões. Concessões trazem consequências. Consequências ativarão consciências. Trocadilhos de banheiro à parte, aqueles que necessitam da pesquisa e de tempo para encontrar novas formas de ver e de dizer, precisam de pensamentos, carencem de novas estratégias para driblar as imposições do titânico Cronos e garantir a resitência de seus propósitos e essa parece ser uma premissa a ser lembrada, precisamos dominar melhor nosso tempo, focar melhor em nossas prioridades, ter consciência do que tem valor e merece ser valorizado . Politicamente, penso que não é questão de simplesmente pedir por mais verbas, embora saibamos da necessidade disto e sim de sermos mais atuantes para mudar aquilo que julgamos necessário.


A Companhias PeQuod e Caixa do Elefante são grupos com trajetórias longas dedicadas ao Teatro de Animação, que construíram suas identidades e pedagogias na continuidade do fazer e a oportunidade de reflexão sobre a prática vivida é um privilégio. Identificamos alguns princípios e terminologias que se repetiram e nos apontaram um vocabulário artístico comum; reconhecemos limites na comunicação do significado de certos termos; nos diferenciamos, embora pouco, na forma de abordar certos princípios que julgamos importantes para o trabalho técnico, mas confirmamos e compartilhamos também visões sobre a importância da construção do trabalho do ator manipulador, que deve se dar através de uma compreensão que não passa só pelo racional da técnica, mas que é conquistada essencialmente por uma experiência sentida. Essa vivência implica "horas de vôo"; o treinamento do olhar; a descoberta do valor do silêncio; a prática da respiração coletiva; a necessidade da atenção; a disponibilidade e prontidão para um jogo que pressupõe intermináveis imprevistos. Tudo isso pode existir também em um teatro sem bonecos, mas no Teatro de Bonecos há ainda outras questões permanentemente em jogo, como a transferência das emoções e do foco através do objeto; a necessidade de torná-lo vivo com a consciência de que este ator-manipulador permanece parte desta cena. São muitas relações que podem ser feitas, muitas riquezas a serem exploradas. Este vasto campo de possibilidade de seleção de sentidos faz parte do universo que a Pequod e a Caixa do Elefante escolheram para investigar e difundir.

A VIVÊNCIA COM OS ELEFANTES






Na vivência prática realizada entre as companhias PeQuod e Caixa do Elefante, ontem, coordenada por Paulo Balardim e Mário de Ballentti, inicialmente, foram apresentados alguns tópicos que norteiam o curso dos trabalhos de preparação do ator nos processos de oficinas. Dentro desses tópicos, destacam-se:


1)      A EXPERIÊNCIA SIGNIFICATIVA PARA O ATOR
O início do envolvimento do ator com a animação parte de uma experiência significativa em sua vida. Algo que impulsione seu desejo de expressão através de um canal que mescle a plasticidade dos materiais ao caráter dinâmico da cena teatral. A plasticidade da animação exige primordialmente o olhar re-significativo para o outro, para a matéria. A escolha da matéria como canal de expressão pressupõe que exista uma subjetividade do ser que observa. Essa subjetividade é transportada e manifestada pelo inanimado, o qual possibilita ao espectador envolver-se emocionalmente através de suas próprias projeções neste objeto observado.

2)      A ESTRUTURA E SIMBÓLICA DO OBJETO ANIMADO
O trabalho de animação inicia-se com um olhar contemplativo do ator sobre o objeto. Neste olhar existe uma carga imaginativa que atribui propriedades fictícias ao objeto. São essas propriedades projetadas que imbuem com traços de autonomia o objeto.
Assim, a relação estabelecida entre o ator e o objeto cria um desdobramento objetivado do ator. Parte de sua subjetividade desloca-se numa alteridade. É a capacidade projetiva do ator que possibilita o desencadeamento do processo de animação. Nesse desdobramento podemos observar dois níveis nos quais o ator se relaciona com o objeto.
No primeiro nível, temos a carga imaginativa em si que, num processo investigativo da forma do inanimado, especula sua similaridade com a forma do organismo vivo, relacionando-os dialeticamente: Não existe contradição entre ambas as formas; existe uma síntese da contrariedade das formas, síntese esta que se manifesta no movimento do objeto. O corpo resultante da síntese é o corpo simbólico. Um corpo que passa a ser outra coisa sem deixar de ser o que é. Ele é o mesmo e outro ao mesmo tempo. O movimento do objeto, nesta acepção, é uma forma efêmera impressa no espaço que expressa qualidades do ser. Na dinâmica do desdobramento do ator é produzido um diálogo entre subjetividades ficcionais: o ator ‘ficciona’ sua força motriz na produção do movimento do objeto (dissimulação); o objeto animado tem sua existência ‘ficcionada’ pelo ator (simulação).
No segundo nível, temos a reorganização da mecânica acional do corpo do ator. A imagem de seu corpo, o mapeamento estrutural de sua forma e funcionamento, é alterada segundo um desencadeamento sináptico que provoca um estado multi-atencional (centrado simultaneamente no ‘eu’ e no ‘outro’) e exacerba funções ligadas à motricidade fina.

3)      AS ESTRATÉGIAS DA MANOBRA
Assim, segundo esses pressupostos, a companhia acredita que o desenvolvimento de uma pedagogia do inanimado passa por uma educação do sensível, na qual o ensino-aprendizagem nasce no momento em que o ator toma consciência de sua posição de observador: observador de seu corpo, observador do outro e observador do mundo. Nos exercícios trabalhados em suas oficinas, a companhia Caixa do Elefante prioriza os seguintes aspectos formativos, nesta sequência:
·         Percepção da latência do ficcional no objeto (eloqüência expressiva do material, sua capacidade simbólica e cinética).
·         Reorganização da mecânica funcional do corpo do ator através da propriocepção (centro de atenção voltado para as micro-mudanças musculares que ocorrem no corpo, consciência e eliminação de pontos de tensão musculares, investigação da ‘corporeidade’ do corpo em seu aspecto ‘coisal’).
·         Otimização do tempo e do espaço através do rigor formal e da economia de meios –percepção da relação corpo/espaço (relações entre forças atuantes no corpo, amplitude do movimento e deslocamentos do ator).
·         Técnicas manipulatórias específicas do contato com o objeto/retórica do discurso da animação abordando temas como eixo, ponto fixo, nível, opacificação da presença do ator(busca de um estado neutral), triangulação, sincronia vocal (articulação da marca de voz no boneco), controle atencional, etc.

Assim, percebemos que a ocorrência da manobra da animação (estratégias utilizadas para esse fim) segue um caminho vetorizado nos sentidos:
a) Do corpo do objeto para o corpo do ator (estímulo).
b) Do interior do corpo do ator para o exterior do corpo do objeto (Força motriz do movimento: motivação, intenção, objetivo, percepção de conflito, ação).
c)       Do exterior do corpo do objeto para seu próprio interior (subjetividade ficcional impressa pelo movimento do ator ao movimento do objeto).
d)      Do exterior do corpo do objeto para o exterior do corpo do ator (a ação do objeto provoca reações/re-adaptações da forma/movimento do corpo do ator.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

terça-feira, 12 de julho de 2011

Oficina PeQuod

Ao centrar seu trabalho em diversos aspectos da manipulação direta ao longo da sua trajetória, a PeQuod optou por oferecer uma oficina à Caixa do Elefante expondo princípios que vê como norteadores e fundamentais desta técnica. Nesta, normalmente um único boneco é manipulado por dois ou três manipuladores simultaneamente, cada um atuando em diferentes partes do boneco. Assim, há um manipulador que atua na cabeça e em um dos braços; outro que atua no quadril do boneco e no outro braço e um terceiro, responsável pelos pés e joelhos. A técnica implica ainda na utilização de um suporte – normalmente um balcão – que serve como palco para os bonecos. Originária do Bunraku japonês, esta técnica ganhou adeptos no Ocidente a partir da década de 1970, graças à organicidade da sua movimentação, que é bastante próxima ao movimento humano e pelas possibilidades que a qualidade destes movimentos pode oferecer para a encenação.
Na oficina, condensada em um dia, a Cia PeQuod apresentou pontos, considerados por ela como pertinentes a qualquer tipo de manipulação – foco, eixo, nível e ponto fixo . O domínio destes quatro pontos, parecem ser para a PeQuod, essenciais para uma boa manipulação, uma vez que estão diretamente relacionados ao olhar, ao equilíbrio, à altura e à estabilidade de um boneco, respectivamente. Nascida nas diversas oficinas dadas pela PeQuod, este processo metodológico adquire  novas camadas em processos internos quando da criação dos seus espetáculos e em instâncias de preparação de novos elementos que são incorporados a companhia. Através de alguns exercícios corporais e com os protótipos criados dentro da oficina pelos participantes da Caixa do Elefante, o objetivo foi levar o grupo a experimentar e entender no próprio corpo e a partir da observação, como estes princípios se dão no boneco e na prática da manipulação direta. Também foi possível, a partir da prática, discutir sobre o nascimento de cenas, de células de movimentos e observar como personagens se delineiam e se revelam através de sua movimentação. A partir daí, novos assuntos surgiram, trazendo temas recorrentes ao trabalho no teatro de animação, como, por exemplo, a visualidade, a neutralidade e a dinâmica de movimento. Qual é o melhor movimento para demonstrar tal sentimento? Qual é o melhor desenho corporal para permitir uma leitura clara por toda a assistência? Esta discussão, extremamente profícua e reveladora, permitiu aos grupos confrontar, ainda que pontualmente, aproximações e diferenças semânticas entre as duas companhias.

Prática

segunda-feira, 11 de julho de 2011

PARA INICIAR AS DISCUSSÕES





Para iniciar as discussões, propomos uma reflexão sobre universais que determinam a linguagem do Teatro de Animação, sob o ponto de vista da recepção. Podemos pensar nesses universais como os elementos balizadores de uma poética.
A animação, em última instância, centra-se na competência do espectador em desenvolver percepções, decodificar signos e projetar uma realidade mítica ao acontecimento observado. É no ato de re-criar o fato observado, que o espectador lança mão de sua subjetividade carregada de uma anterioridade representativa de mundo. Para desenvolver ficticiamente as explicações que a mente imaginativa do espectador produz, este descola as verdadeiras causas da ocorrência do fato das conseqüências que este produz. Por exemplo, no boneco de luva, a causa do movimento de caminhada do boneco é o movimento qualificado da mão do manipulador. No entanto, na leitura do público, essa caminhada é provocada pelo passo do boneco. Nesse processo, verificamos a leitura metonímica da parte faltante ao corpo do boneco, uma vez que a luva não possui ‘pés’ para dar o passo, tampouco existe um ‘chão’ que sustente o boneco e possibilite sua caminhada.
A animação ocupa, no tempo presente, um momento de apelação do espectador as suas capacidades psicofísicas, no qual ele é indagado a reconhecer sua sensibilidade cinestésica, a reminiscência do ato corporal humano. Na poética da animação, alguns procedimentos elementares ativam essa sensibilidade cinestésica do espectador. Apontamos, aqui, dois desses procedimentos, identificados na obra de Marina Estela Graça:[1]
1)           A verossimilhança da configuração visual
O corpo inanimado, o objeto coisal, é desviado de sua função objetal pela sua proximidade física com o ser. Através da forma, a mente expectativa lhe atribui o status de entidade pertencente ao conjunto dos organismos vivos. No exemplo citado do boneco de luva, a  relação de proporção existente entre a escala do boneco e a escala humana, as coincidências articulatórias entre um e outro e a e existência de similaridades na configuração de tronco e membros configuram a verossimilhança.
2)           A ilusão do movimento aparente
Se a verossimilhança introduz a noção espacial ao relacionar a fisicalidade dos seres, a ilusão do movimento opera pelas configurações que a forma assume ao desenvolver-se contiguamente. Na equação corpo-espaço-tempo, o espectador percebe as alterações ocorridas e concede-lhes determinada coerência lógica, respaldado pelo seu conhecimento prévio dos efeitos produzidos pelo corpo vivo.
Segundo Marina Estela Graça,


Durante a criação, as idéias, livres de quaisquer obstáculos técnicos, percorrem de maneira desordenada um fio condutor permeado por vislumbres remanescentes de imagens alocadas em nossa memória. Idéias que só poderão ser executadas através da animação, que exerce controle absoluto do tempo através da construção individual dos fotogramas[2].

Embora o texto da autora trate do cinema de animação, cabe-nos identificar as similaridades existentes entre o cinema e o teatro que abordam esse gênero, visto que ambas as linguagens subsumem uma categoria representacional que se apóia no discurso produzido pelas coisas não-vivas.



[1] GRAÇA, Marina Estela. Entre o olhar e o gesto, elementos para uma poética da imagem animada. São Paulo: Ed. SENAC, 2006.p. 79-80
[2] Idem.p. 9

ETAPA RIO DE JANEIRO

10/07/2011 – Chegada dos grupos na Ilha de Paquetá/RJ

 Nesta etapa, realizada no Rio de Janeiro, o grupo Pequod recebe a Cia. Caixa do Elefante, na Ilha de Paquetá. Neste retiro, em contato com a desbundante beleza natural, durante uma semana, os grupos aprofundarão o entendimento de seus processos de trabalho através de atividades prático-teóricas. Espera-se, nesse encontro, estender a discussão dos conceitos abordados na etapa RS, ocorrida em março passado nas cidades de Porto Alegre e Morro Reuter.

 

sábado, 14 de maio de 2011

A EDUCAÇÃO DO OLHAR

A percepção da mudança  nas propriedades do objeto animado dá-se pela movimentação qualificada - que imprime no objeto novas possibilidades de existência -  e pelo desvio provocado na função inaugural do objeto. A qualificação do movimento pode ser designada como a subversão de uma característica acordada comumente, extraindo, dessa característica, um potencial expressivo inédito ou surpreendente que manifesta um esboço de autonomia.
Mas, transformar um objeto em outro através da animação exige um trabalho mental do ator antes mesmo da efetiva interação. É preciso educar o olhar para que ele possa compreender princípios básicos que possam fazê-lo apreender as características do ser animado. Além dessa percepção, é necessário igualmente ter presente que os elementos plásticos dispostos na cena necessitam ser estimulados através de uma composição e dinâmica espacial. Ora, a composição exige noções de equilíbrio e desequilíbrio, harmonia, peso, contraste e relação de forças... toda composição formal traz conteúdo. Assim, exercitar esses aspectos da observação parecem primordiais como princípio para o ator-animador.

sábado, 12 de março de 2011

SEXTO ENCONTRO - Histórico dos grupos e retrospectiva das temáticas

A criatividade não suporta um lugar repetitivo
Nosso encontro de hoje retomou um pouco da história pessoal dos integrantes dos grupos, seguido da retomada de alguns temas tratados nos encontros anteriores.
No depoimento de Mário de Ballentti, o qual resgata suas paixões de infância como motivadores de seu trabalho artístico, percebe-se a descoberta da força do teatro como meio de expressão; o uso do teatro como recurso para comunicar. As suas experiências de infância influenciaram na escolha pela linguagem teatral com animação. Ele entende que essas paixões de infância motivam a criação, pois a criação é a expressão e a prática do estímulo recebido. O seu referencial visual e sonoro (como a Revista Recreio e os disquinhos do Braguinha e Radamés Gnattali) repercutem na escolha estética dos seus espetáculos. Para ele, as experiência boas, agradáveis, nos impelem à criação.
“Fazer da aula de artes um processo de expressão deve ser iniciado desde cedo. O início dos cursos que ministro parte da sensibilização com o material. Sentir o material compõe cinqüenta por cento da expressão (...) Construir e atuar são atividades que sempre surgiram juntas para mim: sempre foi preciso primeiro construir o brinquedo para depois brincar com ele. A montagem e a construção da brincadeira faz parte do brinquedo”
Acrescentando o conteúdo apreendido na sua participação no Festival Internazionale di Teatro e Cultura per La Prima Infanzia 2011 (Itália), no qual foram debatidas questões sobre a formação bio-social da criança, Mário de Ballentti comenta que o cérebro da criança produz relações neurais em muito maior quantidade do que o adulto, o que a faz perceber e expressar o mundo de outro modo, sem condicionamentos.
O grupo, então, discutiu e fez uma breve incursão e pesquisa no campo na neuroestética para ampliar nossa discussão e tentar compreender a experiência estética no âmbito neuronal. Alguns dados observados nessa breve pesquisa:
- Escutar música e perceber cores ativa processos motores no cérebro humano. Determinadas obras de arte produzem substâncias, como a dopamina, que provoca prazer, bem-estar e estimula a criatividade.
- Para a criança, a linha atenta para o limite e prepara para a percepção da forma. Neste ponto, retomamos a discussão tratada no encontro anterior, no qual comentamos sobre o movimento do desenho que o corpo do ator imprime no espaço e a qualidade “silhuetada” dessa forma como produtora de informações claras. A leitura da ação necessita da leitura da forma e da leitura que essa forma ocupa e transforma os vazios do espaço.
- O sistema meramente reprodutivo em arte inibe a criatividade e ser criativo hoje é uma necessidade imperativa dentro da articulação social do sujeito. Logo, o papel da arte como estimulante criativo, por si só, constitui toda uma pedagogia.
Voltando a refletir sobre alguns dos temas anteriormente discutidos:
- Liliane resgata a temática da autonomia do ator/autor: ele constrói, é participante, passa a compreender o entorno. Nessa perspectiva também, refletimos sobre o ator múltiplo, que se desdobra em inúmeras funções fora da cena, desde a construção, produção até a divulgação de seu trabalho e como isso interfere no seu processo criativo.
- Carlos comenta: “O entorno da gente mudou para que pudéssemos realizar o trabalho.” Assim, ele reflete sobre as estruturas de produção, sua profissionalização e especialização. Ele assevera que os projetos necessitam de mais consistência e faz-se mister a contratação de terceiros para preencher funções nas quais não somos especializados.
- Comentou-se sobre uma tendência de que, nos grandes centros econômicos, a produção artística muitas vezes desvia-se de seu rumo inicial, em função da política cultural adotada pelas instituições fomentadoras. Os editais ditam formatos para a elaboração de projetos, determinando valores agregados para estes projetos e verbas para a montagem e circulação.  A evolução do grupo é determinada por uma necessidade mercadológica que exige uma produção constante de produtos culturais novos em detrimento a uma necessidade artística de produção de pesquisa.
O grupo reconhece que nesta iniciativa do Rumos Itaú, um projeto de fomento e incentivo à produção de conhecimento, altamente estimulante do ponto de vista criativo. Nesta semana de encontros, onde as duas companhias conviveram intensamente com o fim exclusivo de refletir sobre seus fazeres e suas inserções no panorama cultural do país, através de suas sistemáticas de produção, formação e criação, tivemos a oportunidade de aperfeiçoamento mútuo.
No final deste encontro, programamos a próxima etapa deste intercâmbio, que continuará no Rio de Janeiro...
Continuem acompanhando o blog e comentando... Nas próximas postagens incluiremos mais vídeos com os depoimentos dos participantes.