terça-feira, 28 de agosto de 2012

UM PONTO FIXO OU A FIXAÇÃO DE UM PONTO

Uma pequena reflexão sobre a oficina que ministramos em Guaçuí/ES, no XIII Festival Nacional de Teatro.
Creio que concordamos que, dentro da metodologia de ensino das artes da animação teatral, o estudo do comumente chamado 'ponto fixo', constitui-se de primordial importância tanto para os principiantes quanto para os 'iniciados'. Conhecimento basilar, a determinação fictícia de um espaço inalterável localizado num ponto qualquer do espaço propõe um difícil exercício para o ator. Por isso, então, a necessidade de um constante treinamento corporal.
Na oficina que ministramos, surgiu uma definição deliciosa acerca do ponto fixo: um ponto fixo é a soma da imaginação do ator com a investigação que este faz do movimento de seu corpo, para presentificar este espaço estável, fixo e fictício. Com certeza, antes de tudo é preciso imaginar onde está o danado do 'ponto', o local, a parte, o objeto que será 'congelado', ou seja, 'fixado'. Por isso, concordo com Claire Heggen quando ela se refere à 'fixação de um ponto'. Ora, sabemos que é impossível mantermos um estado de imobilidade num corpo alheio tanto quanto simular com nosso corpo a existência desse espaço fixo. Mas aqui, ao falar de treinamento para a fixação de um ponto, referimo-nos à acurácia na realização de um objetivo, mesmo que estejamos perseguindo um ideal. Buscar atingir o ideal de imobilidade é como construir castelos de areia na beira do mar. É um estado efêmero e passageiro. Mas, deve durar o tempo suficiente para fornecer  uma nova percepção do espaço pelo espectador. Assim, a imaginação do ator deve poder visualizar e fixar o ponto através de seu olhar. O corpo, a seguir, irá re-configurar seu sistema de mobilidade, fazendo um uso especial, não-cotidiano, das relações de tensão e relaxamento muscular.
Os exercícios com bastões que utilizamos produzem excelentes resultados, a curto prazo, para este aprendizado e treinamento.

domingo, 26 de agosto de 2012

Participação no XIII Festival Nacional de Teatro de Guaçuí - ES


Nos dias 23 e 24 de agosto de 2012 as companhias Caixa do Elefante e PeQuod participaram do XIII Festival Nacional de Teatro de Guaçuí (ES), ministrando oficinas sobre trabalho para o ator no teatro de animação e apresentando um relato das experiências do intercâmbio realizado em 2011.


Guaçuí é uma cidade de pouco mais de 20.000 habitantes situada no oeste do estado de Espírito Santo (aproximadamente , próximo às divisas com Minas Gerais e Rio de Janeiro. Vizinha à cidade de Alegre, sede de um dos mais famosos festivais de música do país, Guaçuí realizou em agosto de 2012 a 13ª edição do seu Festival Nacional de Teatro, fruto do trabalho da companhia Gota, pó e poeira. Os esforços do grupo de teatro da cidade garantiram ao festival o posto de evento tradicional no calendário artístico do estado, atraindo produções de diversos estados, sobretudo de companhias jovens. Em 2012 foram exibidos espetáculos de Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, além da produção local.


 
As oficinas ministradas em dois dias foram divididas entre as companhias. Coube à companhia PeQuod o primeiro dia de atividades, e à Caixa do Elefante o segundo dia.

O tema das oficinas acompanhou de modo bastante fiel a pauta de discussão encaminhada nas sessões do intercâmbio de 2011, que é o trabalho do ator no teatro de animação, envolvendo questões acerca da pedagogia do artista, da função do intérprete do teatro de animação nos processos de criação na linguagem, e das relações desse artista com os modos de produção e do trabalho dentro do grupo teatral.


 
Desta forma, os trabalhos privilegiaram princípios básicos de treinamento do ator no teatro de animação, treinando fundamentos tais como a concentração, o equilíbrio, o desdobramento da atenção a prontidão física e a projeção de expressividade, sendo também apresentadas questões caras ao treinamento no teatro de animação, tais como as noções de nível, eixo e foco, a criação com material dúctil, e o improviso com protótipos construídos in loco com materiais simples.

A oficina planejada e executada na colaboração entre as companhias adensou a troca de experiências e informações entre PeQuod e Caixa, mas sobretudo ofereceu ao público presente no XIII Festival Nacional de Teatro de Guaçuí uma vivência de aprendizado e troca que se revelaram importantes.

De nossa parte, deixamos a cidade mais integrados, alimentados em nossas práticas e indagações, e ansiosos por mais oportunidades como essa.



Bem, agora é a vez de trocarmos idéias por meio dos comentários. Estamos esperando!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

8o. Seminário de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas


As companhias Pequod e Caixa do Elefante falaram e trocaram acerca da experiência no Programa Itaú Rumos Culturais no 8o. Semínário de Estudos Sobre Teatro de Formas Animadas, que aconteceu junto com o 11o. Festival de Formas Animadas da SCAR/UDESC, que aconteceu entre os dias 05 e 08 de outubro na cidade de Jaraguá do Sul, SC.
Para as duas companhias foi uma possibilidade de mostrar o trabalho diante de uma platéia de estudiosos, praticantes e estudantes de teatro de animação, naquele que é hoje o mais importante evento de reflexão sobre teatro de animação do Brasil.
Foi um grato prazer falar e ouvir sobre os nossos trabalhos e perspectivas para companheiros de ofício e de bonecos, e uma ampliação das nossas perspecitvas de fazer esse encontro frutificar.

sábado, 3 de setembro de 2011

Reflexões sobre o RUMOS Itaú Encontros de Pesquisa – Etapa São Paulo

Abelardo e Mário de Ballentti
Considero, não só pela minha observação mas também pela conclusão a que chegaram os demais coletivos que o encontro de apresentação dos trabalhos seguido de debates foi uma etapa singular e que gerou outro produto de discussão.
O fato de ter que apresentarem ao grande grupo um recorte do que foi o processo, provocou muitas discussões inquietantes sobre o fazer artístico ou seja: Até que ponto este recorte poderia expressar a potencialidade da experiência vivida pelo encontro com o outro para o desenvolvimento de um trabalho colaborativo?
Ficou muito claro que a pesquisa desenvolvida levantou tantas perguntas sobre o fazer de cada um que não sabemos mencionar o tamanho do impacto destas discussões a curto, médio e longo prazo.
Para alguns grupos teatrais o hibridismo de conhecimentos resultado do projeto Rumos Itaú não pode ser avaliado na sua totalidade justamente porque este recorte do processo apresentado representa um momento de extrema ebulição de idéias que necessitam de tempo para serem maturadas.
Era visível nas apresentações ensaiadas a pressão interna gerada em alguns grupos para uma “boa performance” deste recorte a ser avaliado pelo grande grupo. Os debates sempre vieram com justificativas de que aquilo que estava sendo apresentado não expressava a riqueza dos encontros e que se tivessem que preparar algo novamente seria bem diferente do resultado exibido.
Outra questão que ficou bem evidenciada, não só pela ausência dos integrantes dos grupos durante as discussões, mas também pelo stress a que estão submetidos os grupos teatrais neste momento político e econômico do pais. O excesso de trabalho gerado pelas políticas públicas e leis de incentivo está interferindo de forma significativa no resultado dos trabalhos artísticos. Este tema apareceu não só nas discussões como também nas encenações apresentadas. Cito aqui o trabalho do coletivo do Grupo Espanca ( MG ) e Cia. Brasileira de Teatro (PR) com a proposta  Um Outro Si Mesmo – Troca de Pacotes.  Em cena a figura de duas produtoras carregando pastas, CDs e  um pacote de Fedex  contendo o material de pesquisa dos dois coletivos. Elas explicam ao público, de maneira formal, que chegaram a conclusão de queimar todo aquele material gerado pela troca de pacotes dos dois grupos. A cena provocou gargalhadas de toda platéia. O esquete seguiu apresentando diversas cenas atrapalhadas, tentativas falhas de apresentação de PowerPoint do processo do grupo, intercaladas a todo momento pelo estrondo dos acordes iniciais do hino nacional.
Esta apresentação expressou muito bem a situação caótica que estão vivendo os atores na busca da sobrevivência neste contexto sócio econômico onde estamos inseridos e acomodados.
A interação entre os coletivos durante a semana propiciou uma certa intimidade entre os iguais.  Aquela situação de que ao principio todos os grupos apresentariam um resultado “positivo” do projeto deixou espaço para revelações particulares do fazer de cada um, conflitos internos gerados pela convivência ( alguns grupos sequer conheciam o trabalho do parceiro convidado ) até os momentos de entrega total a proposta colaborativa, ao conhecimento que o encontro das diferenças pode gerar.
Um dos trabalhos mais emocionantes, não só pelo resultado apresentado ( recorte de pesquisa ) mas também pelo debate entre os dois coletivos e o grande grupo, foi  a pesquisa Conexão Música da Cena realizado pelos Clows de Shakespeare ( RN ) e Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz ( RS ). Aqui, eu saliento outro momento positivo do Encontros Itaú através da  discussão profunda de um tema, permeado por Seminário de Música na Cena apresentado em Porto Alegre com a participação de diversos músicos que compõem para teatro e tendo como participante o Grupo convidado de RN. O encontro gerou a edição da 10ª edição da Revista Cavalo Louco documentando os depoimentos do seminário. As cenas criadas em comunhão com sons e trilhas executadas pelos atores dos dois coletivos foram apresentadas nos dois estados antes de serem apresentadas no Itaú, resultando uma execução perfeita e emocionante.
Ao final tivemos uma palestra da pesquisadora Cecília Salles sobre Processos de Criação em Rede, Interações como Espaços de Possibilidades.  Ela abordou a questão  pertinente nos blogs dos coletivos: A manifestação clara da necessidade vital do trabalho colaborativo dos grupos teatrais. Citou vários autores, entre eles Edgar Morin, que abordam este intercambio das linguagens na arte contemporânea e a importância das relações intercambiáveis entre grupos para a geração de novos conhecimentos e desestabilização das verdades cristalizas. Foi abordado que a melhor maneira de criar novas idéias é justamente o confronto com idéias opostas ou não totalmente semelhantes. A criação cientifica nas sociedades contemporâneas está ocorrendo nos intercâmbios dos bares, nos intervalos dos seminários, nas conversas sobre filmes e poemas, fora dos gabinetes fechados. Vivemos um momento de conexão de idéias que geram outras idéias sem parar.
O último dia ( sábado, 03 set )  foi de avaliação do projeto com todos os participantes em grande plenária. Foram apresentadas várias frases postadas em todos os blogs. A Caixa do Elefante/ PeQuod foi citada já no inicio.
De maneira muito gentil e sensível os curadores abriram a discussão com a finalidade de ouvir os coletivos e avaliar formas de aprimorar o edital.
Pela avaliação de todos os participantes, foi muito positivo o encontro, também foi unanime a proposta de manter o projeto da maneira como foi realizado, resguardando a liberdade dos grupos de escolherem seus pares e temas a serem discutidos nos encontros, sem exaustivas prestações de contas e penadas contrapartidas, situação recorrente nos editais espalhados pelo pais.

                 Mário de Ballentti – Caixa do Elefante  - teatro de bonecos


                                                             
  
 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Apresentação do projeto em SP

Obrigado a todos os amigos que estiveram presentes na apresentação do intercâmbio PeQuod e Caixa do Elefante no Itaú Cultural, em São Paulo. Em especial, agradecimentos ao Prof° Nini Beltrame, Profª Ana Maria Amaral, amigos da Cia Lumbra (Alexandre Fávero e Fabiana Bigarella), ao colega Fábio Medeiros e as queridas Valéria e Cris.

sábado, 27 de agosto de 2011

Depoimento de Valmor (Nini) Beltrame sobre o projeto

Estamos em São Paulo...derradeira etapa de nosso projeto no Rumos Itaú!
Uma recepção maravilhosa de toda a equipe do Itaú...encontro com queridos amigos fazedores de teatro por todo o país.
...E um breve depoimento do Prof. Nini sobre a importância do projeto.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MOVIMENTO É MÚSICA

Fred Astaire não era um ator-animador (como o definimos hoje). Era um dançarino, coreógrafo, cantor e ator...entre outras tantas coisas. Mas, certamente, soube incorporar à dança a máxima expressão dos objetos que cercavam seu corpo, estendendo sua dansabilidade a todo seu entorno. Sua obcessão pela perfeição o fazia repetir infinitas vezes as complicadas sequências, passos e marcações até poder gravar  a cena com o mínimo de cortes possível. Além disso, Fred sabia 'ouvir' os objetos...não apenas fascinado pelas qualidades sonoras que eles lhe ofereciam, mas fascinado, também, pelo potencial cinético da matéria inanimada. A dinâmica da forma inanimada em movimento, impulsionada pelo corpo do dançarino, gerava uma energia que impregnava a coreografia com outras qualidades, além de retroalimentar a dinâmica corporal do dançarino, uma vez que o objeto em movimento pede uma nova configuração na coreografia do 'partner' vivo (lembrei da idéia de 'circuito' que Piragibe comentou em uma de suas postagens!!): deve-se adaptar o corpo à massa, à forma e ao peso do objeto, bem como às trajetórias que esse desenvolverá no espaço. Fred tinha plena consciência da musicalidade do movimento. O impulso, o fluxo e a retensão do movimento produzem sonoridades...
Em Royal wedding, temos a clássica cena na qual o mestre do sapateado contracena e dança com um cabide. O objeto, muitas vezes, parece possuir vontade própria, desenvolvendo piruetas e passos inusitados, conduzidos pelo corpo de Fred Astaire.
E nós, atores-animadores, não buscamos também a musicalidade nas partituras corporais de nossos bonecos?

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

REPRESENTAR OU INTERPRETAR


Ontem assisti a  uma parte da defesa de dissertação de mestrado do Emerson Cardoso Nascimento aqui na UDESC ("A redescoberta da sombra") e uma questão que foi levantada para a reflexão incitou este post:
O ator de animação representa ou interpreta?
Ao meu ver, ocorre os dois. A representação, evocação de um 'modelo', alusão a algo já conhecido, surge desde a composição plástica da forma animada, e passa pela elaboração do movimento qualificado no objeto animado (boneco). É preciso executar a movimentação partindo de um referencial comum (o movimento do modelo, apreendido em sua síntese) para que ele possa ser lido. Por exemplo, para que seja identificada uma figura antropomórfica que caminha, é necessário que esse figura 'caminhe como um homem'. Se essa figura caminhar como um quadrúpede, o espectador identificará um animal outro. Essa representação exige também sutilezas para além da forma...e é aí que entra a interpretação. Quero dizer que, uma mesma sequência de ações pode ser executada com pequenas variantes em relação ao tempo de execução de movimentos e pequenas variantes nas reações...bem como nos acentos ou ênfases em determinados impulsos ou paradas. Nessa infinidade de variantes, a escolha do ATOR, a seleção dos movimentos e suas dinâmicas em função da descrição de intenções e objetivos do personagem (boneco) faz parte de sua interpretação. O prefixo 'inter' sugere bem a mediação...esse 'algo' entre uma coisa e outra. E o ator, mediador entre a expressão da forma animada e o público cumpre um papel parecido com os sacerdotes animistas antigos, ao evocarem a percepção de um mundo mais sutil e complexo através da ritualização. O rito, ou, os procedimentos utilizados, servem para gerar uma 'limpeza' na movimentação, organizando a essencialidade e buscando uma clareza na codificação. Do ponto de vista artístico, poderíamos dizer que o rito parece produzir a tal 'estranheza' da obra de arte, capaz de suscitar a curiosidade e atenção do público, na expectativa do acontecimento.
Dêem uma olhada nesse maravilhoso trabalho de Neville Tranter, por exemplo...
Eu diria que, além da representação da morte, existe uma dupla interpretação: a interpretação do boneco-personagem 'morte', que deve passar pelas escolhas do ator, e a interpretação do personagem de Neville, em seu 'corpo de ator'.

Então...nesse caso, a grande dificuldade, para mim, está nesse desdobramento simultâneo da interpretação, a qual exige a sincronicidade entre ações diversas (entre os dois personagens) para a composição de imagens que são desencadeadas consecutivamente para revelar significados.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sobre a condição de ator do artista de animação

Citação de André-Charles Gervais recolhida por R. D. Bensky. Traduzi e compartilho:

O marionetista deve ter em si tanto o tipo de ator positivo (aquele que interpreta encontrar a si, para trazer elementos de si mesmo em sua personagem, para projetar-se em sua personagem) e do tipo de ator negativo (que interpreta para desaparecer, para penetrar em outra personalidade, para buscar uma evasão, para criar além de si mesmo, para enriquecer-se na substância de seu papel). Nesse sentido o marionetista pode ser o ator ideal. Ele atua para encontrar-se num circuito que vai dele para o boneco, e retorna do boneco a ele. Ele oferece a personagem a si mesmo.

Lembrei-me bastante de nossas discussões em Porto Alegre acerca do tipo de ator que é o artista de animação, e da projeção de expressividade. Penso bastante na atuação em animação como um jogo sem hierarquia de emprego da expressão do ator e do boneco. Esse jogo de "desaparecer e mostrar-se" (desaparecer para mostrar-se) evoca a equivalência de forças que se dá entre ator e forma. Como bem disse o Balardim na ocasião: "representar com ele".