terça-feira, 30 de agosto de 2011

Apresentação do projeto em SP

Obrigado a todos os amigos que estiveram presentes na apresentação do intercâmbio PeQuod e Caixa do Elefante no Itaú Cultural, em São Paulo. Em especial, agradecimentos ao Prof° Nini Beltrame, Profª Ana Maria Amaral, amigos da Cia Lumbra (Alexandre Fávero e Fabiana Bigarella), ao colega Fábio Medeiros e as queridas Valéria e Cris.

sábado, 27 de agosto de 2011

Depoimento de Valmor (Nini) Beltrame sobre o projeto

Estamos em São Paulo...derradeira etapa de nosso projeto no Rumos Itaú!
Uma recepção maravilhosa de toda a equipe do Itaú...encontro com queridos amigos fazedores de teatro por todo o país.
...E um breve depoimento do Prof. Nini sobre a importância do projeto.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MOVIMENTO É MÚSICA

Fred Astaire não era um ator-animador (como o definimos hoje). Era um dançarino, coreógrafo, cantor e ator...entre outras tantas coisas. Mas, certamente, soube incorporar à dança a máxima expressão dos objetos que cercavam seu corpo, estendendo sua dansabilidade a todo seu entorno. Sua obcessão pela perfeição o fazia repetir infinitas vezes as complicadas sequências, passos e marcações até poder gravar  a cena com o mínimo de cortes possível. Além disso, Fred sabia 'ouvir' os objetos...não apenas fascinado pelas qualidades sonoras que eles lhe ofereciam, mas fascinado, também, pelo potencial cinético da matéria inanimada. A dinâmica da forma inanimada em movimento, impulsionada pelo corpo do dançarino, gerava uma energia que impregnava a coreografia com outras qualidades, além de retroalimentar a dinâmica corporal do dançarino, uma vez que o objeto em movimento pede uma nova configuração na coreografia do 'partner' vivo (lembrei da idéia de 'circuito' que Piragibe comentou em uma de suas postagens!!): deve-se adaptar o corpo à massa, à forma e ao peso do objeto, bem como às trajetórias que esse desenvolverá no espaço. Fred tinha plena consciência da musicalidade do movimento. O impulso, o fluxo e a retensão do movimento produzem sonoridades...
Em Royal wedding, temos a clássica cena na qual o mestre do sapateado contracena e dança com um cabide. O objeto, muitas vezes, parece possuir vontade própria, desenvolvendo piruetas e passos inusitados, conduzidos pelo corpo de Fred Astaire.
E nós, atores-animadores, não buscamos também a musicalidade nas partituras corporais de nossos bonecos?

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

REPRESENTAR OU INTERPRETAR


Ontem assisti a  uma parte da defesa de dissertação de mestrado do Emerson Cardoso Nascimento aqui na UDESC ("A redescoberta da sombra") e uma questão que foi levantada para a reflexão incitou este post:
O ator de animação representa ou interpreta?
Ao meu ver, ocorre os dois. A representação, evocação de um 'modelo', alusão a algo já conhecido, surge desde a composição plástica da forma animada, e passa pela elaboração do movimento qualificado no objeto animado (boneco). É preciso executar a movimentação partindo de um referencial comum (o movimento do modelo, apreendido em sua síntese) para que ele possa ser lido. Por exemplo, para que seja identificada uma figura antropomórfica que caminha, é necessário que esse figura 'caminhe como um homem'. Se essa figura caminhar como um quadrúpede, o espectador identificará um animal outro. Essa representação exige também sutilezas para além da forma...e é aí que entra a interpretação. Quero dizer que, uma mesma sequência de ações pode ser executada com pequenas variantes em relação ao tempo de execução de movimentos e pequenas variantes nas reações...bem como nos acentos ou ênfases em determinados impulsos ou paradas. Nessa infinidade de variantes, a escolha do ATOR, a seleção dos movimentos e suas dinâmicas em função da descrição de intenções e objetivos do personagem (boneco) faz parte de sua interpretação. O prefixo 'inter' sugere bem a mediação...esse 'algo' entre uma coisa e outra. E o ator, mediador entre a expressão da forma animada e o público cumpre um papel parecido com os sacerdotes animistas antigos, ao evocarem a percepção de um mundo mais sutil e complexo através da ritualização. O rito, ou, os procedimentos utilizados, servem para gerar uma 'limpeza' na movimentação, organizando a essencialidade e buscando uma clareza na codificação. Do ponto de vista artístico, poderíamos dizer que o rito parece produzir a tal 'estranheza' da obra de arte, capaz de suscitar a curiosidade e atenção do público, na expectativa do acontecimento.
Dêem uma olhada nesse maravilhoso trabalho de Neville Tranter, por exemplo...
Eu diria que, além da representação da morte, existe uma dupla interpretação: a interpretação do boneco-personagem 'morte', que deve passar pelas escolhas do ator, e a interpretação do personagem de Neville, em seu 'corpo de ator'.

Então...nesse caso, a grande dificuldade, para mim, está nesse desdobramento simultâneo da interpretação, a qual exige a sincronicidade entre ações diversas (entre os dois personagens) para a composição de imagens que são desencadeadas consecutivamente para revelar significados.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sobre a condição de ator do artista de animação

Citação de André-Charles Gervais recolhida por R. D. Bensky. Traduzi e compartilho:

O marionetista deve ter em si tanto o tipo de ator positivo (aquele que interpreta encontrar a si, para trazer elementos de si mesmo em sua personagem, para projetar-se em sua personagem) e do tipo de ator negativo (que interpreta para desaparecer, para penetrar em outra personalidade, para buscar uma evasão, para criar além de si mesmo, para enriquecer-se na substância de seu papel). Nesse sentido o marionetista pode ser o ator ideal. Ele atua para encontrar-se num circuito que vai dele para o boneco, e retorna do boneco a ele. Ele oferece a personagem a si mesmo.

Lembrei-me bastante de nossas discussões em Porto Alegre acerca do tipo de ator que é o artista de animação, e da projeção de expressividade. Penso bastante na atuação em animação como um jogo sem hierarquia de emprego da expressão do ator e do boneco. Esse jogo de "desaparecer e mostrar-se" (desaparecer para mostrar-se) evoca a equivalência de forças que se dá entre ator e forma. Como bem disse o Balardim na ocasião: "representar com ele".



Verônica DeVitta

...Também não podia deixar de publicar essa jóia rara: um ensaio da PEQUOD, em 2008, antes da estréia de FILME NOIR...
Conheçam a irresistível  Verônica DeVitta !!!!!
Mais abaixo, outro vídeo sobre o espetáculo.


20 ANOS DA CAIXA DO ELEFANTE

Não poderia deixar de compartilhar esse vídeo que encontrei, com as imagens da comemoração dos vinte anos em Porto Alegre.




ESTIMULAR, ACORDAR, ESTIMULAR, ADMINISTRAR

Fiquei pensando sobre a definição do verbo "animar" (discussão antiga, mas que ainda  instiga...) Ao invés da popular definição utilizada por nós, "animadores", a qual diz que "animação é o ato ou efeito de produzir 'anima', vida", optei por ampliar a discussão, fazendo uma revisão semântica no termo.
Encontrei alguns outros conceitos que me fizeram refletir sobre a atuação do "animador", os quais compartilho aqui:
O ato de animar[1] também pode ser entendido como:
1. reavivar; acordar; despertar
2. elevar; entusiasmar; erguer
3. vivificar; alentar
4. estimular; revigorar; fortificar
5. conduzir; dirigir; administrar
Dessas acepções, selecionei três, as quais considero como uma seqüência lógica de interação entre o ator e o objeto: acordar, estimular e administrar.
O início de tudo parece ser um estímulo que faz acordar as faculdades proprioceptivas  e perceptivas do ator. O ator 'acorda' para a presença do objeto. O estímulo, de fato,  tem  sua origem na posição liminar entre um e outro. Na zona de intersecção das materialidades dos corpos é que está a frequencia  que faz vibrá-los. A vibração do corpo ocorre quando existe um movimento oscilatório em torno de um ponto de referência, sendo que esta vibração pode ser quantificada.  Quando o público passa a perceber a sintonia entre os corpos, é ele que acorda. Acorda para uma nova percepção e deixa-se seduzir pelo jogo do 'endereçamento do foco de atenção', no qual  a quantificação vibratória induz pontos de observação determinados e intermitentes. O objeto 'acorda' para o mundo quando a ele é dado a oportunidade de revelar-se para além de pré-determinações funcionais. O objeto, em si, passa a ser apreendido em toda a sua inexplicável pluralidade quando o olhar humano indaga contemplativamente sua essência.
A indagação exige resposta. Para obter essa resposta, o estímulo. Estimular, dando voz ao objeto, possibilita explorar suas capacidades expressivas através do jogo dramático, da interpretação do ator(participativa ou neutral) e da manipulação (efetivo contato físico entre ator e objeto com o intuito de produzir movimento externo). Pode-se dizer que existe aí uma recíprocidade: se o ator é estimulado pelo objeto, também lhe estimula, gerando um ciclo de retroalimentação.
Para a manutenção dessa retroalimentação, condição de jogo teatral, é imperativo administrar a relação entre os corpos e a significação dos variados contextos produzidos na cena. Essa administração perpassa a fixação das presenças cênicas (tanto do ator quanto dos objetos reais e dos seres ficcionais), levando em consideração o uso de forças distintas para gerar e mobilizar energias, produzindo ritmos e dinâmicas em ações expressivas variadas.

Procurei um vídeo que pudesse ilustrar um pouco  essas reflexões e encontrei Ilka Schönbein, nesta poética interpretação. Atentem para toda a relação afetiva entre a atriz e o boneco, na qual   fica dissimulado todo o contato físico 'manipulatório'. O corpo da atriz se deixa surpreender a todo instante pelo boneco e a função do olhar contemplativo dá força à retórica do inanimado. A atriz estimula o boneco que a estimula...Ilka administra magistralmente tanto seu corpo, coordenando-o significativamente, quanto o desencadeamento emocional da imagem poética.


[1] Segundo o dicionário eletrônico Babylon 8