sábado, 29 de janeiro de 2011

2º Encontro interno dos integrantes da Cia. PeQuod - Teatro de Animação

Encontro do dia 20 de janeiro de 2011 - Rio de Janeiro

Nesse encontro estavam presentes Miguel Vellinho, Liliane Xavier, Marcio Nascimento, Mario Piragibe.

O encontro se iniciou com comentários sobre o texto “A travessia das faces” (La traversée des figures), de Didier Plassard [1].

Foi mencionado que:
  • O texto fala do problema que se constitui a tentativa de se estabelecer os limites técnicos e tradicionais para uma dramaturgia para teatro de bonecos; 
  • Foi argumentado que esse problema também pode ser encontrado no que diz respeito à ampliação das práticas do teatro de animação contemporâneo. Assim, o momento contemporâneo afirma para a arte da animação uma dificuldade em se identificar seus limites em relação ao contexto mais amplo do teatro [2];
  • Plassard identifica o ator à mostra como um elemento integrador de linguagens e propositor de formas de narrativas.

Em seguida passou-se a busca relacionar algumas indagações presentes e decorrentes do texto para a prática, as convicções e questionamentos da companhia PeQuod:

A primeira questão levantada disse respeito aos limites entre o que consideramos teatro de bonecos e o contexto mais ampliado da cena de animação. Foi afirmado que alguns dos nossos espetáculos futuros serão seguramente espetáculos de animação, mas não necessariamente espetáculos com bonecos. A trajetória da companhia ensinou que o desejo de animação (que ainda carece de ser mais precisamente definido) suplanta a vontade de lidar com métodos conhecidos de manipulação de bonecos com estruturas convencionais.

A isso se completou a questão de que a companhia hoje persegue em seus integrantes uma maior relação com a arte da interpretação, sendo que o virtuosismo na manipulação das formas deixa de ser o mais importante. A companhia acredita, de fato, que demandas decorrentes da cena e do aperfeiçoamento do ator-artista de animação apontam e permitem que se percebam com maior clareza nossas necessidades e deficiências técnicas.

Ainda assim a companhia se recente de estabelecer para si um espaço-tempo para treinamento de trabalho com os bonecos e materiais usados em suas apresentações.

Em paralelo a essa discussão tratou-se dos aspectos de combinação de competências e linguagens [3] que caracteriza parte da produção do teatro de animação dos nossos tempos, e que é um interesse declarado da companhia PeQuod. A esse respeito algumas noções e percepções foram apresentadas:

  • A de que seria da própria natureza das artes da animação, em seus fundamentos ligados às suas tradições diversas, o fato de que esta se processa como uma combinação de competências e territórios artísticos diversos;
  • Foi mencionado o quanto a alegada relação entre teatro de bonecos e infância é tão difícil de ser quebrada quanto é recente (início do século XX); 
  • Falou-se de como a universidade no Brasil ainda não enxerga o teatro de bonecos como possibilidade expressiva e criativa, mas apenas como ferramenta pedagógica;
  • Da dificuldade de crítica e imprensa em lidar com a companhia (e a linguagem,): a crítica parece não dominar a matéria com a qual o grupo lida, e a imprensa talvez não permita que o grupo ocupe espaços que possam ir além do pitoresco e segmentado.

Mencionamos também os desafios impostos pela companhia em enfrentar o que pode ser considerada “grande dramaturgia” (Ibsen, Shakespeare), e que essa pode vir a ser uma ação que rompa com certos preconceitos, ainda que essa noção apresente duas dificuldades:

  1. A hierarquização da dramaturgia em certos autores e procedimentos de maneira estanque conduz a preconceitos;
  2. É da natureza do teatro de animação relacionar-se com as suas matrizes dramatúrgicas de um modo que põe em questão a noção da dramaturgia como algo restrito ao registro literário. Em teatro de animação os materiais, suas texturas, formatos e estruturas de apresentação possuem um forte caráter discursivo e, por que não dizer, dramatúrgico.

Esse momento foi concluído pelo entendimento de que o receio de imprensa e crítica em abordar nosso trabalho sem maiores puderes decorre de uma incapacidade de se perceber que, linguagens e recursos à parte, o que estamos fazendo não passa de teatro.

Sobre A Tempestade (ou qualquer outra montagem futura): será uma peça com bonecos? Não sabemos. Será, definitivamente, um espetáculo de animação. Para nós (da PeQuod, e falantes de português) o termo boneco evoca uma figura antropomórfica. Tillis define o seu puppet como tudo aquilo que é entendido pela platéia como sendo um objeto, mas que por meio de qualidades de forma, movimento e fala pode conduzi-la a imaginá-lo possuidor de vida autônoma [4].

No Brasil buscamos novos termos (forma animada, a ampliação da noção de teatro de bonecos para teatro de animação). Tillis busca ampliar as possibilidades conceituais do termo boneco.

O teatro de bonecos afirma, com um tipo de eloqüência que escapa a outros formatos de espetáculo teatral, que a idéia de dramaturgia sempre se enquadrou num espaço que extrapola o domínio do literário, mas afirma uma discursividade visual, e de combinação de competências e possibilidades de expressão e figuração artísticas.

O interesse que talvez seja o elemento fundante da linguagem da PeQuod se encontra na maneira como a Cia. ocupa o espaço em seus trabalhos. Superar limites humanos por meio da animação quer dizer, para a PeQuod, numa primeira apreciação, ocupar o máximo de níveis e dinâmicas dentro do espaço de representação e do campo perceptivo do espectador. A decisão de como ocupar o espaço se constitui, na maior parte das vezes, num ponto de partida importante para nossos trabalhos.

O ATOR

Concordamos que a companhia busca para os seus trabalhos pessoas com qualidades de ator, mais do que virtuosos manipuladores (essa visão, é claro, isso possui muita relação com a formação de nossos integrantes e com o panorama teatral à sua volta, embora não se possa negar que essa formação e panorama contribuíram para que a companhia estabelecesse sua ideologia artística)

A Cia. já trabalha com elementos técnico-conceituais próprios que dizem respeito a essa procura por fazer o boneco atuar (e fazer o ator atuar com o boneco), mas precisa organizar esses preceitos para poder melhor orientar seu trabalho interno. O que também vale para se conseguir estabelecer uma comunicação mais eficiente com eventuais novos integrantes – falou-se também em restringir as colaborações. A Cia. trabalha com especialistas em outras áreas de expressão (cantores, instrumentistas), pois busca uma forma de expressão que combine competências e possibilidades expressivas porque ACREDITAMOS QUE ESSE TRÂNSITO ENTRE POSSIBILIDADES EXPRESSIVAS E FIGURATIVAS SEJA UMA MARCA DISTINTIVA DAQUILO QUE CONSIDERAMOS TEATRO DE ANIMAÇÃO.


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[1] Texto traduzido por Mario Piragibe e disponível, em francês, em: Revista PUCK – La marionnette et les autres arts, ano 4, n.8. Charleville-Mézières: Institut International de la Marionnette, 1995. pp.15-9.

[2] Poderíamos dizer, e muita gente diz: teatro de atores, teatro vivente, ou teatro propriamente dito, mas: 1. o termo é preciso? 2. o termo explica o que queremos dizer? 3. o termo deixa claros de fato os limites entre essas linguagens teatrais? e, talvez mais importante: que limites entre linguagens são esses?

[3] Usa-se muito o termo “híbrido” ou “hibridização”. Não acreditamos que esta seja a melhor escolha de palavras, uma vez que a experiência nos mostra que a combinação de linguagens, traços e competências mencionada conduz mais a uma cena plural, na qual o convívio das diferenças se faz notar, do que propriamente a criação de um outro gênero, decorrente de uma mistura de outros.

[4] em: TILLIS, Steve. Towards an aesthetics of the puppet: puppetry as a theatrical art. New York:
Greenwood Press, 1992. p. 27.

1º Encontro interno dos integrantes da Cia. PeQuod - Teatro de Animação

Encontro do dia 13 de janeiro de 2011 - Rio de Janeiro

Nesse encontro estavam presentes Miguel Vellinho, Liliane Xavier, Marcio Nascimento, Mario Piragibe, Carlos Alberto Nunes e Marcos Nicolaiewsky. Foram discutidos fundamentos dos encontros e sugeridas atividades a serem realizadas entre as companhias.

Breve indicativo do que foi discutido:

  • Chamou-se a atenção para as diferenças entre as companhias;
  • Foi sugerido trabalhar com frentes reflexivas e demonstrativas;
  • Foi sugerido que se trabalhasse na gradação temática: objeto, artista de animação, teatro de animação;
  • Breve debate sobre datas de trabalho.

Marcamos o encontro seguinte para o dia 20 de janeiro quando, com base na leitura de alguns textos (em breve  disponibilizados no Blog), aprofundaríamos a discussão.