terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DO ESPAÇO OCUPADO E DO ESPAÇO VAZIO


Relendo a postagem da PEQUOD, referente ao encontro do dia 24 de janeiro, gostaria de discorrer sobre o comentário acerca da ocupação do espaço cênico.
Parece-me evidente a preocupação da companhia em "ocupar os níveis e dinâmicas dentro do espaço de representação e do campo perceptivo do espectador". Tomar isso como ponto de partida, como afirmam, muda toda a perspectiva da dramaturgia textual, certamente.
Isso fica evidente nos espetáculos "Sangue Bom" e "Filme Noir". O espaço é plasmado em função de uma mudança temporal na narrativa e da modulação do ponto de vista do espectador. Os sucessivos deslocamentos da cenografia, além de criarem elipses que revelam a metaficionalidade através da presença dos atores-animadores, causam um efeito de encaixe-desencaixe geradores de conflito: o espaço não é concreto nem uno per si. É a possibilidade de sua utilização que o presentifica. Essa questão do espaço visto como uma matéria maleável dilui sua solidez; torna-o matéria onírica. Assim, eu diria que, antes da ocupação do espaço, o espaço é esvaziado. É do vazio, ou do esvaziamento, que surge a re-significação.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

1° Encontro interno dos integrantes da cia. Caixa do Elefante



Realizado em 16 de janeiro de 2011, Porto Alegre. Estavam presentes: Mário de Ballentti, Paulo Balardim e Carolina Garcia.



Como proposta deste encontro, resolvemos iniciar uma reflexão sobre os vinte anos da companhia, tentando distinguir alguns pontos que consideramos característicos em nosso trabalho.
Quando a companhia surgiu, em 1991, tínhamos uma idéia clara e definida de trabalho: utilizar bonecos de uma forma tradicional, ou seja, manter o ator oculto e centrar o ambiente ficcional nos conflitos inter-relacionais dos personagens. Possuíamos uma forte referência dos espetáculos de mamulengo e de textos e bonequeiros argentinos, tais como Chico de Daniel, Javier Villafañe, Otto Freitas e Roberto Espina.  Mas tínhamos também uma forte inspiração no trabalho estético de Jim Henson. Assim, nosso primeiro espetáculo mesclava esses elementos com toda a experiência teatral  trazida pelo Mário, principalmente sua veia cômica e clownesca. Em Porto Alegre, na década de noventa, o teatro de bonecos estava em crescente ebulição...os Festivais organizados pela AGTB em parceria com o município de Canela, e Caxias do Sul, com o apoio da ABTB, impulsionaram o movimento associativo...todos queriam fazer teatro de bonecos!!! Muitas outras companhias surgiram nesse período, migrando do teatro de atores "vivos" ou começando puramente por "paixão". Felizmente, a visualidade dessa arte foi respaldada pela imprensa, o que ampliou consideravelmente o número de espectadores.
Mas é importante lembrar que o final dos anos noventa trouxeram uma perspectiva profissional mais elaborada para os bonequeiros... a própria discussão terminológica apontava para essa transformação: o teatro de bonecos passou a ser mencionado como "teatro de animação" ou "teatro de formas animadas" e o bonequeiro também passou a ser denominado "intérprete de bonecos" ou "ator-manipulador", ou, ainda, "ator-animador". Ou seja, o aumento da produção espetacular nacional e a ocupação desta  nos palcos de teatros, bem como o contato entre companhias advindas de outros continentes, abriram discussões e indagações sobre a qualificação do próprio fazer. Concomitantemente, o público também "especializava-se" e tornava-se mais exigente. O "meramente intuitivo" na arte dos bonecos passou a ser insuficiente e a temática da "formação profissional" entrou em destaque. Mas, como formar-se dentro de uma tradição onde o conhecimento é gerado no "fazer fazendo"? De nossa parte, iniciamos uma busca pelo aperfeiçoamento através de cursos no exterior e no Brasil, como no extinto Centro Latino- americano de Teatro de Bonecos, do Rio de Janeiro. Pouco a pouco, de forma tácita, fomos sistematizando alguns processos construtivos e interpretativos e aplicando-os em nossa produção.
Outra questão que constatamos nesse encontro, foi a transformação tecnológica nos últimos vinte anos, o que afetou consideravelmente a produção dos espetáculos e, também, o ferramental cênico. Para se ter uma idéia, em 1991, operávamos a trilha sonora do espetáculo em rolo (uma espécie de fita magnética semelhante ao cassete, para quem não conhece). Hoje, esse aparelho é peça de museu...
Mas bem, deixaremos os pormenores do assunto "a tecnologia dentro dos espetáculos da companhia" para a próxima postagem...