segunda-feira, 7 de março de 2011

DINÂMICA DO INTERCÂMBIO – ETAPA PORTO ALEGRE

Antes da realização da etapa Porto Alegre, já havia sido traçada uma estratégia para as discussões que seriam realizadas na semana do encontro, apoiada em uma pauta discutida e aprovada pelos grupos por meio de telefonemas e e-mails. Na pauta, dividida em eixos temáticos:
07/03 (2ª feira) – A formação dos atores dos grupos
08/03 (3ª feira) – Diálogo sobre a dinâmica dos grupos e relações estabelecidas com a política pública e outros mecanismos
09/03 (4ª feira) – A presença e a ausência do ator no teatro de animação
10/03 (5ª feira) – A dramaturgia (textual e visual) e as tecnologias utilizadas nos espetáculos
11/03 (6ª feira) – Atividade prática
12/03 (Sab) – Históricos dos grupos, sua formação e concepção dos espetáculos; Conclusões e planejamento da próxima etapa do intercâmbio, a se realizar no Rio de Janeiro.

Esta etapa contará com a presença dos seguintes participantes:
CAIXA DO ELEFANTE - Paulo Balardim, Carolina Garcia, Mário de Ballentti, Valquíria Cardoso, Viviana Schames.
PEQUOD - Mário Piragibe, Miguel Vellinho, Liliane Xavier, Marcio Nascimento, Marcos Nicolaiewsky, Carlo alberto Nunes.
No auxílio logístico: Luana Garcia e Gabriela Mallmann
Na receptiva no Vale Arvoredo (Serra Gaúcha): André Marques e Amanda Figueiredo

postagem após o primeiro encontro
1º DIA DE ENCONTRO – A formação dos atores dos grupos
Ao início do primeiro encontro, realizado no Museu do Trabalho, em Porto Alegre, foram discutidos os seguintes tópicos:
 -A formação sistemática dos atores é dificultada por uma constante necessidade de produção de espetáculos, disso decorre que as companhias precisam encontrar um espaço de treinamento em meio ao atendimento dessa demanda;
- Ainda que fustigados pelas necessidades de constituição de seu repertório e cientes de que o espaço para a formação de seus integrantes ocorre no calor desses processos, as companhias reconhecem que precisam valorizar esse método “intuitivo e errático” que fazem, porque este mesmo método foi a causa do surgimento das suas identidades, e também de seus métodos de treinamento e fundamentos de formação;
-A terminologia adotada para a auto-definição dos sujeitos artísticos influencia uma perspectiva sobre as qualidades formativas (competências fundamentais) desses sujeitos; em outras palavras, as escolhas terminológicas das companhias determinam o percurso formativo de seus integrantes: ator, marionetista, ator-manipulador, bonequeiro, titeriteiro, etc.;
-Sujeitos “atores” requerem o desenvolvimento de capacidades de escuta e observação que auxiliem na transferência de expressividade do “eu” para o objeto (capacidade de projeção);
-A autonomia do ator é uma busca dentro do processo formativo das companhias e não se constitui num paradoxo para uma linguagem que se supõe formalmente rigorosa (a do teatro de animação). A valorização da criatividade e da iniciativa devem ser considerados procedimentos da formação do ator. Tanto a criatividade como a iniciativa são essenciais para a constituição de um trabalho investigativo. O que se propõe aqui é a formação de um ator-investigador ou ator-autor de sua performance;
- Foi apontada a necessidade da existência de sedes e espaços próprios para as companhias como fundamentais para a montagem e manutenção de seus espetáculos, mas também para a existência de um treinamento continuado. Entretanto, foi ressaltado que a sede não é uma condição obrigatória para a conquista desse processo contínuo e sólido de preparo e formação;
- Dada a amplitude de possibilidades técnicas disponíveis ao teatro de animação, os grupos precisam investir num tipo de formação que seja amplificada, não reducionista e que ofereça ao ator um ferramental capaz de habilitá-lo no uso consciente de seu corpo em relação aos preceitos que norteiem suas interações com os objetos utilizados na animação. Esse ferramental deverá levar em consideração as especificidades fundantes dessa linguagem, tais como economia de meios, foco, eixo, desvio de atenção, dissociação de movimentos, partituras de ações, etc;
-Como produto da observação das práticas das duas companhias, a formação não-reducionista do ator, enfim, prevê uma anterioridade ao seu trabalho sobre o palco, a qual deverá centrar-se numa postura ética em relação à observação e reflexão sobre os aspectos que envolvem a realidade. É preciso, ao formador, imbuir-se da responsabilidade formativa do artista como ser humano para que, como tal, possa ele desenvolver sua leitura de mundo e sensação de pertencimento ao coletivo, com suas devidas responsabilidades e direitos.

3 comentários:

  1. No que concerne à questão da terminologia empregada para designar o sujeito que compõe elencos em trabalhos com animação, gostaria de deixar um exemplo. A Cia. Pequod entende que os indivíduos que compõem seus elencos são, de fato, atores. Evitamos, assim, o uso de termos como: marionetista, animador, manipulador, e mesmo ator-manipulador. Entendemos que a combinação de diferentes modos de expressão atualmente disponíveis ao teatro de animação propuseram ao artista dessa linguagem outras formas de relacionar-se com o seu trabalho sobre a cena. Isso produziu substratos tais como o emprego crescente do manipulador à vista, questão já bastante abordada em diversas reflexões recentes. Acreditamos que, do ponto de vista formativo, as transformações verificadas na arte da animação servem para despertar no artista a necessidade do desenvolvimento de uma capacitação aproximada à da arte do ator, Se não ampliar o cabedal de competências de seus artistas, ao menos fazê-los despertar para competências que, do nosso ponto de vista, sempre foram necessárias - e presentes - no trabalho com teatro de animação.

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  2. A PeQuod tem por princípio criar provocações a cerca da especialidade do Teatro de Animação em seus processos de encenação buscando estabelecer um novos pontos de contato entre dramaturgias pre-existentes e produção textual própria no sentido de realimentar a discussão sobre os limites deste segmento da Artes Cênicas e seu diálogo com as outras artes. Temos o discurso como elemento fundante dos nossos processos e a formação do ator está inserida nesse processo construtivo.

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  3. Colegas,
    É um privilégio conhecer o processo artístico de duas companhias tão importantes e suas diferentes formas de pensar, porém instigo a pensarmos também em uma questão que vai além dos princípios estéticos, da capacidade criativa, da potencialidade autoral e do universo conceitual que rodeia o artista do teatro de animação, afinal esse indivíduo ator/criador/artista não se limita ao momento mágico da atuação. Esse sujeito da ação também tem ou deveria ter um treinamento tanto ou mais específico que a sua formação artística para exercer funções que geralmente são agregadas de forma compulsiva ao seu ofício. Vender (espetáculos, projetos, idéias, ingressos, brindes) carregar carga (cenário, equipamentos, caixas), montar estruturas (correndo riscos sérios com relação à segurança pessoal), criar redes de compartilhamento de informações (como essa que usamos agora). Minha dúvida vai de encontro às competências e habilidades de um ator do teatro de animação brasileiro. Será que a nossa consciência sobre o ofício consegue se projetar além do talento e do preparo artístico? Além de artista quem é o profissional do teatro de animação brasileiro?

    Fica como provocação...

    Abraço.

    Alexandre Fávero - Sombrista e cenógrafo
    Cia Teatro Lumbra/Clube da Sombra Ltda

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