terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DO ESPAÇO OCUPADO E DO ESPAÇO VAZIO


Relendo a postagem da PEQUOD, referente ao encontro do dia 24 de janeiro, gostaria de discorrer sobre o comentário acerca da ocupação do espaço cênico.
Parece-me evidente a preocupação da companhia em "ocupar os níveis e dinâmicas dentro do espaço de representação e do campo perceptivo do espectador". Tomar isso como ponto de partida, como afirmam, muda toda a perspectiva da dramaturgia textual, certamente.
Isso fica evidente nos espetáculos "Sangue Bom" e "Filme Noir". O espaço é plasmado em função de uma mudança temporal na narrativa e da modulação do ponto de vista do espectador. Os sucessivos deslocamentos da cenografia, além de criarem elipses que revelam a metaficionalidade através da presença dos atores-animadores, causam um efeito de encaixe-desencaixe geradores de conflito: o espaço não é concreto nem uno per si. É a possibilidade de sua utilização que o presentifica. Essa questão do espaço visto como uma matéria maleável dilui sua solidez; torna-o matéria onírica. Assim, eu diria que, antes da ocupação do espaço, o espaço é esvaziado. É do vazio, ou do esvaziamento, que surge a re-significação.

2 comentários:

  1. Essa é de fato uma das principais preocupaçẽs da PeQuod, Paulo. E a esse respeito sou também partidário de que essa aproximação do espaço, que se esvazia, ressignifica e se dispõe como que em "módulos" simultâneos, se insere no domínio da dramaturgia. A simultaneidade, a sobreposição e o reposicionamento em jogo do material possui uma grande propositividade discursiva. Para uma modalidade de apresentação teatral que manteve uma relação esporádica, descontínua e heterodoxa com a literatura dramática, a potência dramatúrgica sempre esteve nos domínios do gestual, do plástico e do espacial.

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  2. Apesar de não ser conhecedor de nenhum dos espetáculos citados, imagino o quão interessante deve ser a utilização de espaços uma vez que eles "não existem" ou coexistem com outros espaços em uma mesma realidade. Não apenas na animação, acredito, que é desse vazio que surgem as boas e novas ideias, uma vez que enxergar algo cru e nu e, partindo disso, trazer um registro mais maleável do que algo previamente moldado e pronto. Passando pelo ponto da animação, agora, percebo que as possibilidades abrem-se num leque ainda maior: o espectador vive uma experiência com algo não-vivo e, assim, a vida pode surgir de milhões de maneiras, tanto para quem faz quanto para quem assiste. Sendo assim, o espaço, como foi dito, "nem concreto nem uno per si" é o cenário perfeito para o envolvimento com algo que se assiste e inclui-se.

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