quinta-feira, 25 de agosto de 2011

MOVIMENTO É MÚSICA

Fred Astaire não era um ator-animador (como o definimos hoje). Era um dançarino, coreógrafo, cantor e ator...entre outras tantas coisas. Mas, certamente, soube incorporar à dança a máxima expressão dos objetos que cercavam seu corpo, estendendo sua dansabilidade a todo seu entorno. Sua obcessão pela perfeição o fazia repetir infinitas vezes as complicadas sequências, passos e marcações até poder gravar  a cena com o mínimo de cortes possível. Além disso, Fred sabia 'ouvir' os objetos...não apenas fascinado pelas qualidades sonoras que eles lhe ofereciam, mas fascinado, também, pelo potencial cinético da matéria inanimada. A dinâmica da forma inanimada em movimento, impulsionada pelo corpo do dançarino, gerava uma energia que impregnava a coreografia com outras qualidades, além de retroalimentar a dinâmica corporal do dançarino, uma vez que o objeto em movimento pede uma nova configuração na coreografia do 'partner' vivo (lembrei da idéia de 'circuito' que Piragibe comentou em uma de suas postagens!!): deve-se adaptar o corpo à massa, à forma e ao peso do objeto, bem como às trajetórias que esse desenvolverá no espaço. Fred tinha plena consciência da musicalidade do movimento. O impulso, o fluxo e a retensão do movimento produzem sonoridades...
Em Royal wedding, temos a clássica cena na qual o mestre do sapateado contracena e dança com um cabide. O objeto, muitas vezes, parece possuir vontade própria, desenvolvendo piruetas e passos inusitados, conduzidos pelo corpo de Fred Astaire.
E nós, atores-animadores, não buscamos também a musicalidade nas partituras corporais de nossos bonecos?

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário