terça-feira, 12 de julho de 2011

Oficina PeQuod

Ao centrar seu trabalho em diversos aspectos da manipulação direta ao longo da sua trajetória, a PeQuod optou por oferecer uma oficina à Caixa do Elefante expondo princípios que vê como norteadores e fundamentais desta técnica. Nesta, normalmente um único boneco é manipulado por dois ou três manipuladores simultaneamente, cada um atuando em diferentes partes do boneco. Assim, há um manipulador que atua na cabeça e em um dos braços; outro que atua no quadril do boneco e no outro braço e um terceiro, responsável pelos pés e joelhos. A técnica implica ainda na utilização de um suporte – normalmente um balcão – que serve como palco para os bonecos. Originária do Bunraku japonês, esta técnica ganhou adeptos no Ocidente a partir da década de 1970, graças à organicidade da sua movimentação, que é bastante próxima ao movimento humano e pelas possibilidades que a qualidade destes movimentos pode oferecer para a encenação.
Na oficina, condensada em um dia, a Cia PeQuod apresentou pontos, considerados por ela como pertinentes a qualquer tipo de manipulação – foco, eixo, nível e ponto fixo . O domínio destes quatro pontos, parecem ser para a PeQuod, essenciais para uma boa manipulação, uma vez que estão diretamente relacionados ao olhar, ao equilíbrio, à altura e à estabilidade de um boneco, respectivamente. Nascida nas diversas oficinas dadas pela PeQuod, este processo metodológico adquire  novas camadas em processos internos quando da criação dos seus espetáculos e em instâncias de preparação de novos elementos que são incorporados a companhia. Através de alguns exercícios corporais e com os protótipos criados dentro da oficina pelos participantes da Caixa do Elefante, o objetivo foi levar o grupo a experimentar e entender no próprio corpo e a partir da observação, como estes princípios se dão no boneco e na prática da manipulação direta. Também foi possível, a partir da prática, discutir sobre o nascimento de cenas, de células de movimentos e observar como personagens se delineiam e se revelam através de sua movimentação. A partir daí, novos assuntos surgiram, trazendo temas recorrentes ao trabalho no teatro de animação, como, por exemplo, a visualidade, a neutralidade e a dinâmica de movimento. Qual é o melhor movimento para demonstrar tal sentimento? Qual é o melhor desenho corporal para permitir uma leitura clara por toda a assistência? Esta discussão, extremamente profícua e reveladora, permitiu aos grupos confrontar, ainda que pontualmente, aproximações e diferenças semânticas entre as duas companhias.

5 comentários:

  1. Ser recebido pela Cia PeQuod aqui em Paquetá, a ilha da "Moreninha", será uma cativante lembrança que carregarei eternamente em minha memória, e que com certeza as discussões e experiências aqui compartilhadas estarão presentes nas investigações artísticas que estão por vir.
    OBRIGADO!!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oficina da PeQuod! Saudades dos cones e dos bacalhauzinhos!
    Mas vamos lá: estou tentando pensar em termos daquilo que o Balardim chama de universais, ou seja, os fundamentos operativos e reflexivos que sustém a animação vista como linguagem (produção e recepção).
    Os fundamentos de foco, eixo, nível e ponto fixo, claro está que são empregado aqui no cointexto de um método de treinamento e apropriação de fundamentos expressivos para o tipo de manipulação direta empregado pela companhia. Sem reparos; considero perfeito! Mas quero me esforçar para identificar na especificadade desse trabalho princípios operativos que possam ser compartilhados no escopo da vastidão de possibilidades e formas da expressividade em animação.
    Uso o primeiro post (e coisas mais minhas aqui cim os meus botões), para entender que a animação se encarrega, em trocas que se dão entre forma, ator e espectador, de produzir a impressão de uma presença qualificada e eminentemente teatral, que se estabelece sobre o paradoxo daquilo que é simultaneamete objeto e vida imaginada. (continua...)

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  4. (continuando...) Nesse sentido, os fundamentos operacionais devem ser considerados como meios pelos quais essa impressão se produz e pode ser oferecida à percepção.
    Se eu decidir entender como EIXO o fundamento pelo qual a forma do boneco pode ser percebida e reconhecida como tendo integridade e coerência estrutural, imediatamente identificaria os três fundamentos finais (eixo, nível e ponto fixo) como pertencentes a uma mesma "família". Claro, o processo específico de treinamento reconhece a possibilidade de isolamento desses princípios para a depuração das capacidades manipulativas que desembocarão, mais adiante, numa qualidade comum, ou seja: a capacidade de mostrar no boneco integridade física e lógica de deslocamento e gestual. Isso eu posso entender como algo necessário a diversas outras formas de boneco, certo? O FOCO é um fundamento-conceito bastante complexo, e que claramente possui uma natureza diversa. Primeiramente pelo modo como se desdobra: focalização pode ser aplicada para produzir a impressão de autonomia do boneco, para direcinar as ênfase da cena e da apresentação do boneco e pode ser entendido no contexto de uma dinâmica de trocas expressivas entre ator e forma animada. Cumpre uma função de produção dessa impressão de autonomia, mas também se enquadra num processo que imbrica animação e dramaturgia/encenação no sentido em que propõe uma ordenação de narrativa cênica. Atua também com possíveis estruturas compostas, em efeitos de "rebatimento" (para o quais a aproximação com a ótica é bem mais que um suporte para analogias), composdos feixes de atenção que podem convergir ou divergir produzindo uma narratividade de sobreposições e simultaneidades (Sangue bom; Filme Noir; Peer Gynt...).

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  5. Produção da impressão através de fundamentos operacionais: concordo com o Mário que são esses meios que excitam a percepção do observador. Sobre a "família" eixo, foco, nível, realmente são conceitos que atuam simultaneamente no corpo do objeto animado. A condução do olhar do personagem visa apresentar um determinado centro de interesse para o público e, certamente, ao apontar este centro de interesse (normalmente utilizamos o nariz como referência, pois se assemelha a uma seta, todo o corpo (e seu eixo) atuam na silhuetagem, tornando o desenho da forma do corpo do objeto mais claro e limpo como informação. O nível, certamente está presente também, pois a variação de altura do boneco pode gerar inúmeras outras informações na leitura da ação.

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